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Tiro não foi acidental, diz testemunha

Ouvir: Tiro não foi acidental, diz testemunha

Fortaleza
29/07/2010
Caso Bruce
Em depoimento à Polícia, o estudante que filmou pelo celular segundos após a morte de Bruce Cristian disse que ouviu o policial Yuri Silveira afirmar que atirara na direção do pneu da moto que levava o rapaz. Versão contradiz tese de que tiro foi acidental
O estudante, de 20 anos, fala com precisão do que teria presenciado na tarde do último domingo, 25, quando o adolescente Bruce Cristian de Sousa Oliveira, 14, foi atingido por um tiro na nuca disparado pelo policial militar Yuri Silveira. “Eu lembro, sim, que o policial disse que não queria acertar o rapaz, que tinha mirado no pneu. O disparo não foi acidental, foi consciente”, relata o estudante. Ele estava na garupa de uma moto, guiada por um amigo no momento do tiro.
Ontem, as duas testemunhas prestaram depoimento ao delegado Munguba Neto, que preside o inquérito. A declaração do estudante e do amigo, em alguns pontos, contradiz a versão defendida pelo comandante do Ronda do Quarteirão, coronel Werisleik Pontes.
O estudante narra que, momentos antes de ouvir o disparo, ele e o amigo escutaram um breve sinal sonoro da viatura, que os fez encostar. Perceberam, no entanto, que o carro pedia apenas passagem. “A viatura ultrapassou como se tivesse numa perseguição, em alta velocidade. A sirenes não estavam ligadas, nem a sonora, nem a de luz”, completa. Ele revela que o semáforo estava fechado e a viatura parou. Assim que o sinal acendeu a luz verde, escutou o estampido. “O sinal não estava fechado. A moto em que o Bruce estava não avançou o sinal”, frisa.
Já a versão apresentada por Werisleik é diferente. No cruzamento da avenida Desembargador Moreira com Padre Valdevino, o sinal estaria vermelho. O soldado saiu da viatura, mandou que descessem da moto e o motociclista avançou o sinal. Neste momento, ocorreu o disparo, que, segundo o depoimento do policial, foi acidental.
Habeas corpus
Ângelo Cordeiro, advogado de Yuri Silveira, afirmou que entraria hoje com pedido de habeas corpus para o soldado, preso desde a última terça. “A Justiça Militar não tem competência para decretar a prisão preventiva do acusado, visto claramente no artigo 125 parágrafo 4 da Constituição Federal. Se ele está sendo acusado de crime doloso contra a vida, a competência é da Vara do Júri”, diz. Ângelo dispara que a prisão do jovem foi feita apenas pelo “imenso apelo popular”.
O promotor de Justiça Militar Joathan de Castro Machado fez o pedido de prisão preventiva do acusado e foi acatado pela juíza Antônia Dilce Rodrigues Feijão, da Vara de Auditoria Militar de Fortaleza. Machado afirma que, por enquanto, Yuri “não está sendo acusado de nada”. “O que aconteceu foi um homicídio cuja autoria e materialidade estão muito claras. Se o homicídio é doloso ou culposo, é conclusão dos dois inquéritos (o civil e o militar)”. Segundo o promotor, a versão inicial de Yuri é que o tiro foi acidental, o que caracterizaria como crime culposo (sem intenção). “Então, a competência ficaria com a Vara Militar”, finaliza.
Angélica Feitosa