Que País é este?
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- 18-05-2010
18.05.2010 opinião
Encontrar os olhos dos pedintes nas ruas, especialmente quando são crianças, nos dá uma enorme agonia no peito. Uma sensação estranha que nos faz parecer, e digo apenas parecer ignorar a tragédia. Quando não conseguimos dar a esmola, nos recriminamos por não sabermos se fizemos um bem ou um mal. Alternamos nossa generosidade constrangida com uma imprecação qualquer para acalmarmos nossa consciência. Assim nos acostumamos com esta paisagem até o ponto em que ficamos insensíveis diante do quadro desesperador da realidade cruel em que vivem as crianças pobres. E o número delas cresce assustadoramente nos caminhos que vencemos todos os dias para transpor nossa cidade. Nesta semana, conversei com um educador social que me falou de um garoto de 12 anos que vive na Avenida Beira-Mar. Segundo o técnico que o tem acompanhado, a criança tem usado hormônios que estão evidenciados na feminilidade do seu corpo, além de fazer uso de maconha e “crack”. Sua fonte de recursos advém dos programas que realiza com gringos frequentadores das barracas e bares da avenida. O educador me confidenciou sua impotência porque sua ação limita-se a produzir relatórios e tentar convencê-lo a dormir no abrigo do Estado. Soube que o pai do garoto encontra-se numa penitenciária e que a mãe vive num barraco embaixo do viaduto do Antônio Bezerra. São agravantes de uma situação que não piora em nada a vida de quem vem sendo expurgado do mundo social e econômico de Fortaleza. Seu sonho? Uma loteria transformada na viagem com um gringo para o exterior onde ele sonha exista o paraíso. Os que vão e conseguem voltar contam histórias maravilhosas. A Europa realmente é bela. Não contam a situação de sujeição, as situações de escravidão branca, ou o escárnio com que são tratados. Segue o menino e segue o seu educador social diante de um Estatuto da Criança e do Adolescente que existe, mas cuja aplicação torna-se inócua já que o Estado não assume a tutela das crianças e adolescentes abandonados. Denuncio isto e a falta de articulação entre governo, Poder Judiciário, Ministério Público e Conselho Tutelar.
Francisco Caminha – deputado estadual