Familiares criticam Mutirão Carcerário
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- 25-09-2009
25.09.2009 Nacional
A mãe se arrumou, passou perfume nos dois filhos e foi ao Fórum Clóvis Beviláqua receber o marido que iria, segundo ela, ganhar o benefício da liberdade através do Mutirão Carcerário. Minutos depois, já com os olhos chorosos, Miria Pereira gritava pelos corredores: seu marido não ia mais ser libertado como haviam prometido. Vinda de Pacajus, a senhora chamava o Mutirão de ?mentirão?. Com papelada de processos nas mãos, uma das coordenadoras do Projeto, Roberlene Rodrigues, mandava a mulher parar de chorar e avisava que o pedido de alvará de soltura do seu marido tinha sido realmente indeferido e que nada mais podia ser feito. Miria Pereira, no entanto, continuava a dizer que a Justiça tinha dado sua liberdade. Depois de muita confusão e bate-boca, uma boa nova chegou: o esposo de Miria ganhara a semiliberdade e tudo não passara de um mal-entendido. “Foi só uma desorganização nossa”, tentou se explicar a coordenadora. Numa tarde de plantão no Fórum muitas foram as histórias de desrespeito aos familiares de presos.
Explicando que o Mutirão Carcerário gera muitas expectativas nas famílias dos presos, o juiz federal Marcelo Lobão, representante do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), frisou que muitas pessoas vêm ao Fórum todos os dias apurar informações. “Tem-se uma expectativa que todos vão ser soltos, mas não é assim. Estamos tentando consultar com cuidado os mais de 14 mil processos existentes. Às vezes acontecem confusões como essas”, frisou o juiz. Fazendo plantão na porta do Mutirão, Aparecida Guimarães não acredita que todos vão ser julgados. Ela disse que seu esposo foi condenado a quatro anos de prisão, mas, segundo ela, já fazem mais de seis anos que ele está detido e nada foi feito ainda. “Eu sempre venho aqui e o povo só me enrola. Só por que a gente é pobre não temos direito a nada, é?”, questionou a mulher, que juntamente com Miria Pereira, não cansavam de reclamar do descaso com seus maridos.
PROJETO LIBERDADE CIDADÃ
Reconhecendo que o papel do Mutirão Carcerário não é somente o de revisar os processos, o juiz Marcelo Lobão disse que, por trás de cada prisão, há inúmeros problemas sociais. Segundo ele, um dos objetivos do projeto é dar assistência beneficiária e social às esposas e filhos dos detidos. Lançado na tarde de ontem, uma nova ação promete ajudar aqueles que, liberados pelo Mutirão Carcerário, tentarão construir um futuro longe das grandes. O projeto ?Liberdade com Cidadania? quer avançar na proposta de ressocialização dos egressos e dar emprego e capacitação profissionais aos mais de 1.357 que, até ontem, ganharam o direito à semiliberdade. Dezenas de empresários e gestores públicos formam agora um Conselho Gestor para discutir, articular e desenvolver ações que possibilitem o acesso de presos ao sistema de proteção social.
Oferecendo seis cursos de capacitação para um total de 150 presos, a coordenadora do programa ?Criando Oportunidades? da Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS), Márcia Mororó, frisou a necessidade de se dar uma nova chance àqueles que já pagaram pelos seus erros. “Vamos capacitá-los para trabalhar principalmente na área metalúrgica e voltarem a ter dignidade”, frisou a coordenadora. Representante de uma empresa de metais, Deyse Maia fica orgulhosa em poder oferecer trabalho aos egressos. “A gente já vem trabalhando com adolescentes em conflito com a lei e agora com presidiários”, disse a empresária. Uma nova reunião do Conselho Gestor do programa ?Liberdade com Cidadania? acontecerá no próximo dia 8, quando outros grupos apresentarão suas disponibilidades de vagas. “Queremos que a sociedade se comprometa na resolução desse problema. Eles têm direito à capacitação e ao trabalho quando saem das prisões”, concluiu o juiz.