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Buraco da Jia´ é aberto após dia de tumultos

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20.09.2010 cidade
Algumas mercadorias chegaram a ser expostas dentro dos carros dos manifestantes, em frente ao portão do local da feira
Mesmo com liminar, os ambulantes só tiveram acesso ao galpão no início da noite de ontem
Depois de um dia de tensão e ansiedade, o Buraco da Jia foi aberto na noite de ontem. Cerca de 700 ambulantes que trabalham na feira, que funciona no Centro de Fortaleza, conseguiram voltar ao trabalho por volta das 19h30 e prometeram virar a noite na atividade. O local só foi aberto após intervenção da Polícia Militar, que teve de ir ao local fazer cumprir a liminar do juiz Irandes Bastos Sales, da 1ª Vara da Fazenda Pública, conseguida pelos feirantes na última sexta-feira, que garantia a reabertura da feira.
Mesmo com liminar, os ambulantes só conseguiram ter acesso ao espaço na noite desse domingo. A Guarda Municipal, que formou um paredão para proteger a entrada do local com reforço do pelotão especial, não quis receber o documento, alegando que não cabia a eles acatar ou não decisão judicial.
Sem notificação
O subtenente da Guarda Municipal, Aureliano Marques, informou que a eles só cabia obedecer ordens da Prefeitura de Fortaleza, por meio da Secretaria Executiva Regional do Centro (Sercefor) ou da Procuradoria Geral do Município (PGM), que não haviam sido notificados ainda. “Que Estado é este que uma Guarda Municipal não cumpre uma decisão judicial como esta?”, indagou o advogado dos feirantes, Jaime Morano.
Os ambulantes foram impedidos de vender suas mercadorias devido ao embargo do local pela Sercefor, na última quinta-feira, dia 16 de setembro. Para fazer cumprir a liminar que pedia a abertura do local, um mandado de intimação foi expedido, ontem, pelo juiz Benedito Helder Afonso Ibiapina, da 16ª Vara Cível.
O clima foi tenso durante todo o dia. Feirantes acusaram a Guarda Municipal de partir para cima de crianças e pessoas idosas. A estudante Gleiciane Mendonça, 18 anos, disse que teve o braço quebrado por um guarda e foi levada a um hospital. “Eles (guardas municipais) deram uma cacetada no meu braço e ainda jogaram spray de pimenta nos meus olhos”. O feirante José Arnoldo de Aquino e Silva estava com marcas das pancadas que afirmou ter levado de um guarda. “Quando começou o tumulto, saí correndo, mas meu chinelo saiu do pé. Abaixei para pegar e eles (os guardas) me bateram”, contou.
Segundo a Guarda Municipal, os ambulantes tentaram invadir o local e partiram para cima dos policiais, por isso houve reação defensiva. “Apenas agimos dentro da legalidade”, destacou o subtenente.
De acordo com a liminar, impetrada pelo proprietário do galpão Buraco da Jia, Francisco de Assis Brito Sena, a Prefeitura não poderia ter fechado o local, que é de propriedade particular e os feirantes pagam pelo aluguel do espaço.
Embargo
De acordo com relatos dos vendedores ambulantes, a Prefeitura de Fortaleza pretendia embargar a obra no galpão São José, ao lado do Buraco da Jia, e fechar o antigo mercado São Sebastião, onde, na semana passada, foram encontrados CDs e DVDs piratas.
PREJUÍZOS
Feirantes decidem vender na rua
Preocupados com os prejuízos de um dia sem trabalho – a feira funciona apenas às quartas e aos domingos -, os ambulantes começaram, no início da tarde de ontem, a vender suas mercadorias na calçada e no pátio externo da Catedral e até mesmo dentro dos carros, no meio da via, enquanto esperavam a abertura do local. A calçada da Rua São José ficou repleta de manequins e roupas.
“Perdemos muitas vendas porque vem cliente de fora para comprar nossos produtos. Hoje, eles encontraram o lugar fechado”, afirmou Josy Rodrigues. Ela disse, ainda, que, às 16h, só tinha conseguido vender duas peças, horário em que, normalmente, já tem vendido mais de 50% do estoque. “Tenho de pagar o salário de três pessoas que trabalham para mim, almoço e merenda. É muito prejuízo”.
Além disso, os ambulantes reclamaram de que alimentos estariam estragando na lanchonete situada no interior do galpão. Os produtos estavam lá desde a última quinta-feira.
Mesmo tendo sido aberto, o impasse que envolve o Buraco da Jia não terminou. A titular da Secretaria Executiva Regional do Centro (Sercefor), Luiza Perdigão, marcou uma reunião para hoje pela manhã com os feirantes a fim de discutir o problema. Na manhã desse domingo, a titular da Sercefor explicou o porquê do embargo feito ao local. Segundo ela, o Buraco da Jia está dentro do projeto de requalificação do Centro e que a área está reservada para o projeto Pajeú. De acordo com Perdigão, ali não haverá nenhum tipo de comércio. “Temos projeto de construir uma praça no local”. A reportagem tentou contato com a Sercefor após as confusões, mas não obteve resposta.
Ainda quando esperavam a liminar que permitia a abertura do galpão ser cumprida, os ambulantes ameaçaram retornar para a Praça da Sé. “Não podemos é morrer de fome. Somos 800, mas juntando as pessoas que dependem de nós, chegamos a mais de 3.200. A Prefeitura não pode fazer isso”, alegou Catiane Mansueto Marinho, uma das lideranças.
ENQUETE
Queixas
“Hoje, tivemos um prejuízo grande. Para amenizar os danos, passei a vender minha mercadoria no pátio da Catedral”
Elizabete Martins
28 ANOS
Feirante
“A perseguição aos feirantes pela Prefeitura é antiga. Vem desde a ocupação na Praça da Sé. Somos muito prejudicados”
Roberto Lima
36 ANOS
Feirante