10 anos da Lei Maria da Penha: é preciso ter coragem para denunciar e superar a violência
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- 10-08-2016
Na quarta reportagem da série sobre os 10 anos da Lei Maria da Penha, vamos contar a história de duas mulheres que superaram o medo e tiveram coragem de denunciar seus agressores
Foram meses de sofrimento. Olhos machucados, marcas de mordida, arranhões. O corpo pedia socorro, mas o medo falava mais alto e a dona de casa Joana* continuava visitando o companheiro mesmo ele estando dentro do presídio. “Visitava porque ele me ameaçava se eu não fosse. Quando saiu, disse que ia mudar e continuou fazendo tudo de novo, sempre me espancando”, relata.
A família da dona de casa se preocupava com a situação e a orientava a denunciar as agressões. “Eu nunca tinha coragem, mas vi a morte de perto e decidi procurar ajuda”, afirma.
O grito de socorro foi dado em novembro de 2014. Enquanto o companheiro, sob o efeito de drogas, destruía objetos dentro de casa, ela viu uma viatura policial passar na rua e pediu ajuda. “Ele já tinha quebrado tudo e estava tentando explodir o botijão de gás quando os policiais chegaram e efetuaram a prisão”, lembra emocionada.
A partir daquele momento, a dona de casa voltou a ter uma vida normal e encoraja outras mulheres a denunciar seus agressores. “Consegui ter paz espiritual, dormir, andar sossegada na rua. Isso não tem preço”, reconhece, aliviada.
A GARÇONETE PERDOOU, MAS NÃO ESQUECEU
A garçonete Verônica* também vive em paz agora. Os momentos de pânico duraram pouco tempo, o suficiente para ela procurar a polícia e denunciar o ex-marido.
“Eu tinha uma separação amigável há mais de um ano. Inesperadamente, ele invadiu minha casa, mexeu no celular, viu uma conversa minha com meu namorado e, como ele queria voltar e eu não, ficou com raiva, quis me agredir, me enforcar, ameaçou incendiar minha casa e tirar minha filha de mim”, conta.
No dia seguinte, com o ex-marido ainda em casa, a garçonete usou o pretexto de levar a filha ao colégio para sair e procurar a família em busca de ajuda. Ela só retornou depois de dois dias, já acompanhada por policiais.
“Cresci traumatizada, vendo minha mãe apanhar do meu pai. Ela sempre sofreu calada, o mesmo que acontece com várias mulheres. Eu não quis isso pra mim. Denunciei logo na primeira agressão”, diz com firmeza.
Na época ficou triste por ver o pai da filha, o homem com quem foi casada, ser preso. Também teve medo de ele fazer alguma coisa após ser solto. Hoje, a convivência entre os dois é pacífica.
“Perdoar eu já perdoei. Agora esquecer, a gente nunca esquece. Espero que nunca mais aconteça”, confessa a garçonete esperançosa.
Na reportagem de amanhã, vamos explicar quais procedimentos deverão ser adotados pelas mulheres vítimas de violência doméstica e familiar.
*Nomes fictícios a pedido das vítimas
SERVIÇO
Juizado da Mulher de Fortaleza
Endereço: Avenida da Universidade, 3281. Benfica
Telefone: (85) 3433-8785
Juizado da Mulher de Juazeiro do Norte
Endereço: Rua Maria Marcionilia, 800. Lagoa Seca
Telefone: (85) 3571-2269