25 anos de serviços prestados à Justiça, e uma vida toda de superação
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- 28-09-2020
Talita Silva
Jornalista
“Acreditar, superar e vencer.” Esses três verbos sempre nortearam a trajetória profissional e pessoal da oficiala de Justiça Rosana Maria de Almeida Oliveira, que tem deficiência nas pernas, mas transborda de alegria e entusiasmo pela vida. É o que você acompanha na sexta reportagem da série “Judiciário inclusivo: Nós também fazemos Justiça”
Em 14 de fevereiro de 1966, nascia a segunda filha do casal Elisa de Almeida e Manoel Oliveira. Aos quatro meses de idade, foi diagnosticada com poliomielite, mais conhecida como paralisia infantil. A enfermidade atingiu as células responsáveis pela atividade muscular dos membros inferiores, ocasionando deficiência nas pernas.
Para Rosana Maria, no entanto, as limitações serviram de combustível para encontrar a melhor maneira de se adaptar e buscar a concretização dos seus sonhos. Atualmente, consegue andar com o auxílio de uma muleta canadense e, no decorrer do tempo, foi aprendendo a superar os obstáculos, com muita resiliência. “Compreendi que minha limitação era apenas nas pernas, não era na mente nem no coração”, reconhece a servidora, que tem oito irmãos por parte de pai, do primeiro casamento; e dois por parte de pai e mãe, do segundo casamento.
Desde cedo entendeu que o estudo poderia ser uma oportunidade de ascensão na sua vida. Estudiosa, não demorou muito para que o seu esforço fosse recompensado. Foi aprovada em 2º lugar para o cargo de Oficial de Justiça do Tribunal de Justiça do Ceará, nas vagas destinadas à pessoa com deficiência, no primeiro concurso público que fez, em 1995. Além disso, é formada em Direito, pela Universidade Federal do Ceará (UFC), concluindo o curso em 1990.
UM LAR AMOROSO
Rosana Maria credita todo o seu sucesso profissional à educação recebida dos pais. “Minha família foi fundamental para me dar coragem, sobretudo, me ensinar a ver que não é a deficiência que torna uma pessoa especial, mas o que cada um traz dentro de si.” Ela lembra com orgulho os ensinamentos transmitidos pela genitora. “Minha mãezinha Elisa nunca fez distinção na criação dos seus três filhos. Tínhamos as mesmas responsabilidades; e as tarefas de casa eram divididas. Ela me ensinou a ser forte, a não me abater com as dificuldades e diferenças.”
As orientações foram decisivas para que fortalecesse sua mente e não utilizasse sua limitação para murmurar ou se vitimizar. “Nunca encarei minha deficiência como algo que me tornava inferior, pois sempre tive muita fé em Deus! E minha determinação me fez ver que eu era capaz de vencer, superar e acreditar, e tornar-me a pessoa e a profissional que eu queria ser”.
Sua mãe faleceu em 2006 (o seu pai tinha falecido antes). “Éramos muito unidas, eu fiquei muito triste e pedia para Deus me dar uma nova família. “Então, em 2007, conheci o casal Giselle e Antônio, que me adotaram como filha. Hoje, somos uma linda família e moramos juntos aqui na Maraponga. Inclusive meu pai Antônio é quem me ajuda e trabalha comigo, na efetivação do cumprimento dos mandados judiciais”, explica. Assista ao vídeo.
INSPIRAÇÃO PARA OUTROS
Sua determinação tem sido exemplo para muitas pessoas. A oficiala lembra quando começou a dirigir, em 2004, após tirar sua primeira carteira de habilitação. Na época, a supervisora da 4ª Vara de Sucessões do Fórum Clóvis Beviláqua, Gracilene Macêdo, venceu o medo de dirigir após saber que a deficiência da amiga não a impediu de realizar esse sonho. “Eu tinha a CNH há anos, mas não dirigia. Olhava para Rosana e via todo aquele vigor e entusiasmo pela vida que me encheu de inspiração para que eu me superasse. Hoje não tenho mais medo de dirigir”, comemora Gracilene.
“Como ser humano, a Rosaninha é um exemplo para todos nós! Transmite força e confiança, é uma verdadeira bênção de Deus! Como profissional, é muito tranquila e responsável com suas obrigações”, destaca a amiga Kátia Maria Carvalho da Silva, que também é oficiala de Justiça.
Sobre ser vista como referência, a oficiala diz que “é gratificante saber que todos nós temos algo de bom a acrescentar na vida das pessoas; e, no final, seremos contados por Deus pelo que fizemos de bem”.
Lotada na Central de Cumprimento de Mandados Judiciais (Ceman) da Comarca de Fortaleza, desde o ano de 2013, a servidora cumpre a sua rota de entrega de mandados judiciais, como qualquer outro profissional da área. Somente após o período de pandemia que passou a exercê-la de forma virtual, a distância. “Sou muito feliz, ao realizar meu trabalho. As intimações e citações que eu faço constantemente, são procedimentos essenciais ao bom funcionamento da Justiça; e fazer parte desse serviço é motivo de muita honra para mim. Sinto-me plena em ser útil e fazer o meu melhor para ajudar as pessoas, através do meu ofício.” Ela ainda é responsável pelo setor de Malote Digital da Ceman, serviço interno no Fórum Clóvis Beviláqua. Antes disso, atuou na 20ª Vara de Família e Sucessões e na 4ª Vara de Sucessões, ambas da Capital.
MÃOS QUE CRIAM
Rosana Maria é habilidosa com as mãos: sabe bordar e costurar, atividades que realiza quando tem folga. Já executou diversos projetos de paramentos litúrgicos e religiosos, na paróquia em que participa, no seu bairro. “Eu amo bordar e costurar! Já fiz almofadas bordadas, toalhas, herdei esse dom da minha mãezinha Elisa. Essas atividades me servem como terapia. Também aprecio música e canto nas missas”.
Aos 54 anos, o desejo por mais conhecimento continua latente. Ela pretende fazer graduação em Teologia para aprofundar os estudos bíblicos e como forma de gratidão. “Sou muito agraciada por Deus. Ele me deu tudo: família, trabalho e fé, a fé que sempre me faz acreditar, superar e vencer todos os desafios da minha vida”.