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Comando diz que não há inquérito contra soldado

Ouvir: Comando diz que não há inquérito contra soldado

25.03.2011
Fortaleza
Misteriosamente, apesar de flagrado em escutas telefônicas na Operação Paraíba, onde aparece negociando uma fuga por R$ 70 mil e armas com o sequestrador Fabinho da Pavuna, o soldado V.F., da Polícia Militar do Ceará, não responde a nenhum inquérito e nunca foi indiciado pela Polícia Civil ou investigado por qualquer outro órgão da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) para responder sobre as suspeitas de autoria dos crimes.
Segundo o comando geral da Polícia Militar, que enviou, ontem ao O POVO, nota de esclarecimento (ler íntegra ao lado), ?não existe nenhum processo judicial, administrativo ou denúncia formal em desfavor? do soldado. Na época, V.F. trabalhava na segurança do Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS). O comandante da PM, Werisleik Matias, através da seção de Relações Públicas, informou que ordenou ?pesquisas junto à Justiça Comum, Justiça Militar, Corregedoria Geral dos Órgãos da Segurança Pública e Diretoria de Pessoal da Corporação?.
De acordo com a nota, não há, nos arquivos na Corporação, ?comunicado formal emitido ao Comando em relação a citada Operação Paraíba, realizada em 2006?. Como até hoje, depois de quatro anos, a Polícia Civil não comunicou o teor das escutas envolvendo o soldado, só agora, depois da matéria publicada no O POVO, foi iniciada uma investigação.
O comando da PM informa ainda que o soldado ?se apresentou voluntariamente? e negou, em termo de declaração, envolvimento na negociação de uma fuga para Fabinho da Pavuna. O militar garantiu que nunca foi ?ouvido oficialmente? sobre as interceptações telefônicas em qualquer inquérito ou procedimento do setor de inteligência da SSPDS.
A versão da SSPDS
A revelação do soldado destoa da resposta oficial sobre o caso. Em comunicado enviado ao O POVO, o secretário da Segurança Pública, Francisco Bezerra, afirma que ?todos os procedimentos investigatórios dessas forças tarefas (Operação Paraíba e outras) convergem para a polícia judiciária para a instauração dos devidos procedimentos legais?. Por email, enviado na última segunda-feira à SSPDS, o jornal perguntou por qual motivo o teor da escutas não motivaram a abertura de um inquérito. Além das investigações terem parado desde 2008.
A nota de esclarecimento do comando da PM revela a inexistência de processo judicial, administrativo ou denúncia formalizada contra o PM que trabalhou no IPPS.
E agora
ENTENDA A NOTÍCIA
Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará terá de auditar quais os desdobramentos e resultados da Operação Paraíba. E quantos novos inquéritos foram abertos a partir do cruzamento de dados e relatórios de interceptações telefônicas
SAIBA MAIS
Na edição da última quarta-feira, O POVO mostrou que o juiz da 1ª Vara do Crime autorizou, em 11 de outubro de 2006, policiais civis que trabalhavam na Operação Paraíba a fazer interceptações no telefone celular do sequestrador Fabinho da Pavuna , que estava preso no IPPS.
Um relatório do processo 2006.01.18468-8 aponta que o soldado V.F. teria sido flagrado negociando com Fabinho da Pavuna uma fuga. Como o plano não deu certo, e o militar e o traficante André Soares de Oliveira teriam gasto os R$ 70 mil pagos pelo sequestrador, o PM acerta o repasse de armas (AK-47, pistola Ponto 40 e fuzis 762)
para saldar a dívida.
O POVO conversou com a promotora da 1ª Vara do Crime, Ana Proença, sobre o processo. Além de ter assumido a Vara recentemente, ela informou que o processo não pode ser manuseado até que se encerrem os trabalhos de digitalização dos documentos da Justiça do Ceará, iniciado em 2009.
Apesar do comando da PM ter informado que não existe procedimento na Corregedoria dos Órgãos da Segurança Pública contra o soldado V.F. em relação às escutas telefônicas no IPPS, O POVO aguarda resposta a perguntas enviadas por email na última segunda-feira à instituição.