Um sonho, uma cartinha e o Natal mais feliz: a magia da solidariedade transforma vidas
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- 18-12-2024
Fernanda Aires
“Papai Noel, eu queria ganhar um ventilador, porque minha casa é muito quente e eu acordo suada. Prometo que vou cuidar bem dele”. O pedido singelo e tocante de uma menina de 6 anos transforma o que seria um simples objeto em símbolo de conforto e esperança. Assim começa mais uma jornada de solidariedade e amor no Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), por meio da Comissão Estadual Judiciária de Adoção Internacional (Cejai), que, em parceria com os Correios, dá vida aos sonhos de centenas de crianças e adolescentes em situação de acolhimento institucional.
A união de dois grandes momentos dentro do Natal de Ação – a adoção de cartinhas e o evento Natal dos Acolhidos – representa mais que a entrega de presentes. É a manifestação de amor, carinho e aconchego para quem, muitas vezes, tem os laços familiares rompidos. Este ano, o evento promovido pelo TJCE trouxe alegria, brincadeiras, apresentações musicais e a tão aguardada entrega de presentes.
Desde o início de novembro, as cartinhas escritas por mãos pequeninas percorrem um caminho de fé e afeto. São desejos simples, mas que carregam o peso de sonhos genuínos. Bonecas, carrinhos, livros e, por vezes, um ventilador. Itens que, para muitos, são corriqueiros, mas que, para essas crianças, simbolizam tanto.
NATAL DE AÇÃO
O projeto Natal de Ação ganhou o reforço da campanha nacional Papai Noel dos Correios após o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) firmar Termo de Cooperação Técnica com a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos para estimular a participação das Coordenadorias da Infância e da Juventude dos Tribunais de Justiça de todo o País na execução da ação solidária. Magistrados(as), servidores(as) e colaboradores(as) do Poder Judiciário do Ceará foram convidados a adotar as cartinhas e transformar pedidos em realidade. Os pedidos ficaram no Setor de Informações do Fórum Clóvis Beviláqua, à espera de corações dispostos a apadrinhá-los. Já a entrega simbólica ocorreu, nessa terça-feira (17/12), no Condomínio Espiritual Uirapuru, onde fica a Casa Santa Mônica.
Segundo a assistente social Jord Guedes, da Comissão Estadual Judiciária de Adoção Internacional do TJCE, ao todo, 18 unidades foram contempladas, beneficiando 304 crianças e adolescentes. “A Cejai, encabeçando essa campanha, já tem essa tradição, desde o ano de 2017, com a arrecadação de presentes, com a campanha voltada para a sociedade, com a sensibilização das pessoas para que se voltem a essas crianças que precisam tanto do nosso carinho, da nossa atenção, não simplesmente por uma questão legal, porque a infância e a adolescência têm sim que ser priorizadas, mas por uma questão mesmo de emoção, de carinho e de amor, que o mundo precisa tanto. Esse ano houve essa metodologia diferenciada, com esse acordo de cooperação entre o CNJ e os Correios, e a Cejai continuou coordenando”.
Para Kleber Andrade, superintendente dos Correios, a campanha vai além da entrega de presentes. “Nós não entregamos apenas presentes, nós entregamos sonhos”, destaca, emocionado. Ele reforça a importância de parcerias com instituições como o TJCE e o Banco do Nordeste, que ajudam a mobilizar a sociedade para abraçar as cartinhas.
O desafio é grande: cerca de 10 mil cartas são recebidas no Ceará, cada uma carregando uma história de luta, esperança e fé. Para alcançar 100% de apadrinhamento, o apoio de toda a sociedade é fundamental. “Essa campanha já tem 35 anos. É a maior campanha natalina do Brasil. Nossa missão é crescer cada vez mais, sensibilizar a sociedade e atender todas as crianças carentes”, reforça Kleber, confiante na força do bem coletivo.
ACOLHIMENTO E ESPERANÇA
O Natal é tempo de família, de encontros e de abraços. Mas, para muitas crianças e adolescentes que vivem em unidades de acolhimento, essa experiência tem outro significado. É o que conta Árgelis Blanco, supervisora institucional da Casa Santa Mônica. “Elas ficam muito gratas, porque esse é um tempo de estar com a família, mas infelizmente não podem. Quando alguém chega com um presente, isso representa acolhimento e carinho.”
Mais do que roupas, brinquedos ou alimentos, essas meninas e esses meninos realmente pedem é atenção, cuidado e uma chance de se sentirem especiais. Árgelis reforça que as portas estão sempre abertas para quem quiser compartilhar uma tarde de brincadeiras, um sábado de jogos ou uma visita que traga alegria ao coração de quem tanto precisa.
CELEBRAÇÃO VIRTUAL
Como parte do Natal de Ação, o Natal dos Acolhidos, promovido pela Comissão Estadual Judiciária de Adoção Internacional, proporciona a essas crianças e adolescentes um momento especial de alegria, amor e pertencimento. A iniciativa oferece um dia de celebração dedicado aos acolhidos, trazendo a magia natalina de forma sensível e humana. Este ano, o evento aconteceu, nesta quarta-feira (18/12), de forma virtual e encantou corações.
Apresentações artísticas, brincadeiras e a entrega de presentes formaram a atmosfera de encantamento. A desembargadora Lígia Andrade de Alencar Magalhães resumiu a emoção do encontro: “É sempre uma enorme alegria nos unirmos para alegrar essas crianças. Eu quero que elas saibam que não estão sozinhas, que tem muita gente preocupada com elas. Gostaria de dar um cheiro em cada um de vocês virtualmente e esperar que o ano que se aproxima seja grandioso para todos nós”.
A alegria e o brilho nos olhos foram visíveis mesmo à distância. Para Deusimar Rodrigues de Alencar, analista judiciário da equipe técnica da Cejai, o encontro virtual foi de acolhimento e reflexão. “Esse é um momento de muita luz, de alegria para todas as crianças. O Natal é tempo de conciliar, compartilhar e se entregar ao bem. Ver esses sorrisos nos lembra o valor do afeto e da solidariedade”.
UMA MENSAGEM QUE FICA
Que o espírito do Natal se faça presente em cada cartinha adotada, em cada presente entregue e, principalmente, em cada olhar que se enche de alegria. As crianças não pedem muito: uma boneca, um carrinho, um livro… ou um ventilador para dormir melhor nas noites quentes.
Mas, no fundo, o que elas realmente esperam é se sentir acolhidas e lembradas. Elas não escrevem apenas para o Papai Noel, mas para o mundo — para aqueles que, com gestos simples, podem devolver-lhes o brilho nos olhos e a crença de que o amanhã pode ser mais leve.
Como adolescente de 16 que é bailarina e sonha com uma sapatilha para continuar dançando pela vida, ou a menina que só quer um ventilador para dormir em paz, cada pedido é uma faísca de esperança. Cada presente entregue carrega, além do objeto em si, o mais precioso dos sentimentos: o amor.
Porque o que essas crianças pedem não está no embrulho, mas no gesto. No laço invisível que se constrói com o mundo, onde o amor se faz presente sem data de validade. E, assim, o Natal se eterniza — não só na entrega dos presentes, mas no afeto compartilhado, na lembrança de que ninguém está sozinho.
Neste Natal, seja a mão que transforma cartas em sonhos. Seja o abraço que atravessa distâncias. Seja a esperança que chega pelos Correios e faz morada no coração de quem tanto espera. Porque o maior presente não é a boneca, o carrinho ou o ventilador, mas a certeza de que, em algum lugar, alguém se importa.
E, assim, a magia do Natal deixa de ser um evento e se torna um sentimento — permanente, caloroso e infinito.