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Público pode conferir a mostra “A Arte de Sonhar e Resistir” na Escola da Magistratura

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A Escola Superior da Magistratura do Ceará (Esmec) está com a exposição “A Arte de Sonhar e Resistir” aberta para visitações. Desde março deste ano, os quadros estão disponíveis para apreciação, porém, em virtude da necessidade do isolamento social devido à pandemia, as visitações estavam suspensas. Somente foi possível retornar neste mês de agosto, após a volta gradual das atividades do Judiciário cearense. A exposição é composta por produções artísticas de mulheres que integram o Poder Judiciário do Ceará. No vídeo, algumas obras da exposição.

 

Entrevistamos a juíza cearense Socorro Bulcão, responsável pela criação dos quadros “Retratos e Releituras” que integram a mostra. Confira!

Pode nos falar sobre a sua trajetória artística?

Eu poderia dizer que a minha pintura é a manifestação de um desejo da infância, do qual eu sequer tinha consciência, mas que estava lá, escondido, como uma semente que levou uma vida para germinar e que brotou como brotam as flores de lótus, em meio ao lodo, para lançar mão aqui de uma metáfora. Embora a arte tenha se manifestado em mim na maturidade, não quero dizer que tal tenha se dado tardiamente, pois nunca é tarde para realizar um sonho. A arte sempre me seduziu, mas os vendavais da vida não propiciaram nosso encontro, apenas acenávamos uma para outra, rodopiávamos no turbilhão como Paolo e Francesca, no inferno de Dante Aliguieri, até que a força dos redemoinhos nos aproximou para esse abraço definitivo. Mas ainda sou uma neófita, estou iniciando essa caminhada, tendo aulas com a artista plástica Sandra Montenegro, que é também a curadora da exposição “Retratos e Releituras”, minha parcela de contribuição para a exposição “A Arte de Sonhar e Resistir”, promovida pela Esmec. Na verdade, nem sei se sou uma artista, mas isso não me preocupa, porque gosto de pintar por gosto e para isso sinto necessidade de não estar presa a rótulos. Isso me dá mais liberdade.

Como foi o processo de criação para o desenvolvimento da exposição?

O processo não tinha necessariamente um destino, mas como diz o psicanalista francês, Jacques Lacan, “uma carta sempre chega ao seu destino”. Quando eu comecei a pintar, logo quis fazer o registro das pessoas que eu amo e que fazem parte da minha vida, da minha história. Acho que isso se devia ao medo de estar me despedindo delas. Eu queria registrá-las, ou melhor, elas já estavam em mim, como o negativo de uma fotografia. O que eu tentei fazer foi revelá-las por minhas próprias mãos, uma coisa mais para artifício do que para arte, porque eu acho que esses retratos são também e principalmente um escrito, pictográfico, mas antes de tudo um escrito.

As releituras vieram a partir de uma proposta do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) aos internautas durante a pandemia. Era madrugada e durante a minha insônia, navegando no instagram, deparei-me com esse desafio semanal. Foi um grande encontro virtual com o museu e com uma infinidade de artistas e/ou simplesmente pessoas que estavam ali tentando fazer algo produtivo e libertador durante esse período difícil pelo qual estamos passando. Era preciso se inventar e o MASP abriu uma clareira no meio da escuridão, dando espaço para que as pessoas se lançassem a esse maravilhoso projeto. A partir daí, passando a conhecer outros artistas, surgiu a oportunidade de participar com um trabalho da “Exposição Tarsila. Mais de um século de arte”, uma exposição virtual promovida através do instagram pelo perfil @arteporartista, mantido pela artista plástica Andréa Dall’Olio. Essa exposição foi idealizada pela artista plástica Jacinta Cavalcante e sob a curadoria de Andrea Dall’Olio.

Finalmente, quando a Esmec, durante os preparativos que precederam o Dia Internacional da Mulher, lançou a louvável proposta de uma exposição de arte de mulheres que fazem parte do Poder Judiciário cearense, eu inscrevi algumas das minhas obras e tenho a grata satisfação de saber que essa exposição, que foi inaugurada de forma virtual, hoje passa a ser aberta ao público, sendo, portanto, a primeira exposição presencial da qual faço parte. Isso muito me honra.

O que você procura transmitir para o público através da exposição?

Essa é talvez a pergunta mais difícil de responder. Eu acho que o propósito maior é retratar a experiência com o Real. Embora minhas pinturas não tenham nada de abstrato, eu não as vejo como literais. Elas são uma metáfora da vida, são fragmentos de um percurso, são registros da história de um sujeito que à beira do buraco se agarra às bordas tecidas e tecíveis durante a sua existência. É preciso tecer essas bordas que nos dão consistência, cerzi-las, fazer nó. Penélope soube tecer e destecer enquanto paciente e sabiamente esperava o retorno de Ulisses a Ítaca. Na vida é preciso saber atar e também desatar para reatar. Isso é tecitura que faz borda ao buraco do Real, e é o que nos mantém presos a este mundo. É pulsão de vida! E a vida, como a arte, é um exercício contínuo de paciência e sobretudo de resistência.

SERVIÇO
Evento: Exposição na Esmec
Endereço: Ramires Maranhão do Vale, 70 – Edson Queiroz
Horário de visitação: 9h às 17h
Obrigatório uso de máscara e distanciamento social