Presos denunciam torturas
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- 04-11-2009
04.11.2009 Cidade
Os acusados de terem tentado matar a delegada Alexandra teriam sido pressionados a incriminar o chefe da Polícia Civil
A prisão de uma quadrilha de assaltantes, na semana passada, numa operação conjunta da Polícia Civil com o Ministério Público e a Coordenadoria de Inteligência (Coin), da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), provocou, ontem, uma completa reviravolta das investigações sobre o atentado sofrido, há quase dois meses, pela delegada da Polícia Civil, Alexandra Medeiros; e o seu esposo, o inspetor Fernando Cavalcante.
Os quatro homens presos revelaram, ontem, em depoimento à portas fechadas, e que durou mais de seis horas, no Departamento de Inteligência Policial (DPI), na presença de representantes de Comissões de Direitos Humanos da OAB-CE e da Pastoral Carcerária terem sido vítimas de torturas.
O chefe do bando, o assaltante Otacílio Siqueira Júnior, o ?Júnior Paulista?, teria afirmado que foi pressionado – durante a tortura – para confessar o atentado contra a delegada e, ainda, apontar o superintendente da Polícia Civil, Luiz Carlos Dantas, como um dos envolvidos na trama de morte contra a delegada Alexandra.
Durante toda a tarde de ontem, os quatro presos foram submetidos a interrogatórios – a portas fechadas – no DIP. Além dos representantes das duas comissões, o depoimento teria sido assistido por membros da Procuradoria Geral da Justiça (PGJ). Os interrogatórios foram presididos pelo delegado Rodrigues Júnior, do gabinete do próprio superintendente. Em seguida, os quatro foram levados à sede da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), para serem submetidos a um segundo exame de corpo de delito.
Luiz Dantas não participou dos depoimentos, mas determinou a transferência dos presos para o DIP. Desde a manhã da última sexta-feira, os quatro acusados estavam recolhidos na carceragem da Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos e Cargas (DRFVC).
A quadrilha chefiada por ?Júnior Paulista?, foi capturada na última quinta-feira, no Eusébio, com uma caminhonete Hilux roubada. Depois de autuados em flagrante, ?Júnior Paulista? e seus comparsas, os irmãos Gilson Lopes Justino, o ?Meia-Luz?, e Francisco Lopes Justino; além do caseiro Francisco da Silva Monteiro, foram levados para a DRFV e ali confessaram, além de vários assaltos em Fortaleza e na Região metropolitana, o atentado sofrido pela delegada Alexandra e seu marido, no dia 16 de agosto último.
Implicações
O atentado seria uma resposta da quadrilha diante de investigações sigilosas que estariam sendo feitas pela delegada Alexandra acerca de vários crimes de pistolagem ocorridos no Ceará, entre eles, o que vitimou o empresário lagosteiro Cláudio Augusto Kmentt, executado no dia 16 de dezembro de 2004 dentro de sua empresa, a Ceará Pesca, no Mucuripe.
Durante o atentado contra a delegada, o marido dela travou uma luta corporal seguida de tiroteio com os criminosos, conseguindo, mesmo baleado, matar um dos bandidos, identificado como Jorge Eduardo Carvalho Neto, 35. Na época, o irmão de Fernando, o delegado Francisco Cavalcante (ex-deputado estadual), chegou a acusar o superintendente Luiz Carlos Dantas de ter ido ao local do crime para ?atrapalhar? o levantamento de provas.
Dantas disse, no local, que ainda era cedo para afirmar se a delegada sofrera atentado ou uma tentativa de assalto. Com a prisão recente da quadrilha de ?Júnior Paulista?, o caso voltou a ser investigado. Em depoimento na DRFVC e na Delegacia do Eusébio, o caseiro teria revelado que o chefe do bando comandou o atentado contra a delegada, dando, detalhes da trama.
Torturas
A suposta tortura contra os presos para que incriminassem Luiz Carlos Dantas no plano contra Alexandra foi desmentida, ontem, pela própria delegada e por Cavalcante. ?Em nenhum momento dos depoimentos nenhum dos presos sequer citou o nome do doutor Dantas. Isso vai acabar sendo um tiro no pé dele (de Dantas). Não houve nenhuma tortura?, afirma Cavalcante.
Alexandra, por sua vez, informou que o flagrante contra a quadrilha (pelo roubo da caminhonete) foi acompanhado por várias autoridades e que, logo em seguida aos procedimentos de cartório, eles foram levados para a sede da Pefoce e submetidos ao exame de corpo de delito, não sendo constatado nenhum sinal de agressão.
Cavalcante afirma ainda que, durante o período em que eram investigados pelos assaltos, os bandidos foram vistos por diversas autoridades, entre elas, o ex-corregedor Ronaldo Melo Bastos e o promotor de Justiça, Domingos Sávio Amorim.
PROTAGONISTA
Integrantes da quadrilha
Otacílio Siqueira Júnior
Apontado como o chefe da quadrilha, tem uma extensa ficha criminal. Já foi condenado pela Justiça pelo assassinato do empresário Joacir Belizário da Silva, 39, dono das bandas de forró “Tropikália” e “Líbanus”, no Cumbuco, em 2006
Gilson Lopes Justino
Conhecido pelo apelido de “Meia-Luz”, é acusado de ter praticado assaltos a bancos e ameaçar matar policiais. Também foi acusado de envolvimento na morte do empresário, no Cumbuco. É considerado de altíssima periculosidade
Francisco Lopes Justino
Irmão de “Meia-Luz”, também estava envolvido com a quadrilha que vinha roubando caminhonetes de luxo em Fortaleza e na Região Metropolitana. Agora, é acusado de também ter participado de vários assaltos em Fortaleza
Fernando Ribeiro – Editor