Por que tanta violência?
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- 25-04-2011
21.04.11
Ideias
A tragédia de Realengo ainda produz muitos debates. As sugestões mais recorrentes para se evitarem casos semelhantes têm sido o aumento da segurança e o endurecimento da lei penal. Mas, isso tem pouca eficácia, e ainda pode nos afastar da compreensão de suas reais causas. A violência é um problema complexo, de várias origens. No entanto, sua compreensão pode ser facilitada a partir da biologia do cérebro humano. Pesquisas recentes evidenciam que nosso cérebro não é um só, mas um conjunto de cérebros interdependentes, formados em camadas, ao longo do processo evolutivo. A primeira camada, a mais antiga, herdamos dos répteis, donde o nome de cérebro reptiliano. É um cérebro de ataque e de fuga, agressivo, sede dos impulsos e dos instintos, mas necessário na preservação da espécie. O cérebro seguinte é o emocional, dos mamíferos, seres mais evoluídos, responsável por nossos sentimentos e relações sociais, desprestigiado no Ocidente, desde a Grécia filosófica. O terceiro cérebro é o racional, do homo sapiens, responsável pela cognição, linguagem e raciocínio, historicamente muito cultuado entre nós ocidentais. Recentemente, descobriu-se que, cerca de 40.000 anos atrás, surgiu um quarto cérebro, batizado de angelical ou espiritual, muito ativo nos humanos mais evoluídos, e sede das virtudes superiores, como o amor, o perdão, o altruísmo e a compaixão. É este cérebro que controla e coordena os demais, garantindo o equilíbrio do sistema e a evolução da humanidade. Mas, para realizar essa tarefa, ele requer as virtudes acima citadas, sem as quais definha, permitindo que o reptiliano aflore vigoroso e domine todo o sistema, produzindo agressão e ameaça à vida humana. Por que tanta violência? Porque se insiste na manutenção do atual modelo civilizatório que inibe o cérebro espiritual e alimenta o reptiliano, este fautor de todas as guerras e outras formas de violência, como a existente no Brasil. A violência será reduzida com a mudança do atual modelo cultural, com a mudança da própria sociedade, que está embrutecida, e a partir de um sistema educacional que privilegie os valores acima, sem o que não teremos paz.
João Bosco Nogueira – professor universitário.