17.12.2009 Fortaleza
Nicolau Araujo nicolau@opovo.com.br
17 Dez 2009 – 00h21min
Uma abordagem casual a uma criança de 10 anos de idade e a uma adolescente de 16 anos, na última segunda-feira, no Centro, desencadeou uma investigação das polícias do Ceará e do Amazonas sobre uma rota de tráfico de seres humanos entre os dois Estados.
Segundo a delegada Iolanda Fonseca, que responde interinamente pela Delegacia de Combate à Exploração da Criança e do Adolescente (Dceca), a criança e a adolescente perambulavam pelas praças José de Alencar e do Ferreira, quando foram abordadas por uma equipe do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) e encaminhadas à Dceca.
Apesar da situação de risco, as duas afirmaram à Dceca que não estariam sendo exploradas sexualmente e que teriam saído de Manaus por meio de um homem. Porém, na última terça-feira, em um Centro de Atendimento Emergencial (CAE) na capital amazonense, a menina de 10 anos teria contado que foi explorada sexualmente em Fortaleza, segundo a Polícia do Amazonas.
A delegada conseguiu localizar o suspeito, que se identificou como comerciante e padrasto da menina. Ele também apresentou declaração das mães das duas amazonenses, que supostamente teriam autorizado a viagem. O homem alegou ainda que veio a Fortaleza para visitar uma filha.
“Achei a situação confusa e decidi remeter o caso à Justiça“, comentou a delegada. As duas meninas seguiram para Manaus na manhã de terça-feira, com passagens cedidas pela Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS).
Situação grave
O juiz da 5ª Vara da Infância e da Juventude, Darival Bringel, disse ao O POVO que a exploração sexual juvenil aumenta a cada ano em Fortaleza.
“Todos temos fechado os olhos e os ouvidos para essa pecha (mau costume) que envergonha Fortaleza e ao próprio Estado. A vulnerabilidade de nossas crianças e adolescentes é muito grande, diante da dificuldade de políticas públicas voltadas para a juventude. A situação é grave e eu me revolto com a minha condição de impotência“, comentou o magistrado.
O POVO tentou contato com a coordenadora do Escritório de Prevenção ao Tráfico de Seres Humanos e Assistência à Vítima do Estado do Ceará, Eline Marques, mas foi informado que ela teria ido a Manaus na companhia da criança e da adolescente.
E-MAIS
> A Pesquisa sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para Fins de Exploração Sexual Comercial (Pestraf), realizada pela Universidade de Brasília (UnB), mapeou mais de 240 rotas de tráfico de seres humanos no Brasil. De acordo com o estudo, Ceará mantém uma rota com os Estados do Pará e do Amazonas desde 1997.
> Segundo ainda a pesquisa, o Nordeste somente supera a Região Norte, em número de rotas, quando a conexão é internacional. Nesse caso, o Ceará enviaria adolescentes e mulheres para a Espanha e Itália.
> Nos últimos dois anos, as polícias do Pará e do Amazonas têm registrado o envio de mulheres cearenses para Suriname, até então uma rota de nortistas.