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Ninguém foi condenado

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29/07/2010
Casos emblemáticos
PMs envolvidos em três crimes de grande repercussão ainda não foram condenados. A maioria voltou a ocupar suas funções dentro da PM. Juiz afirma que a “infinidade de recursos” é a culpa da demora no andamento dos processos
A Justiça cearense ainda não decidiu se são culpados os policiais militares envolvidos em pelo menos três episódios recentes que resultaram em pessoas mortas, outras feridas e que tiveram grande repercussão na mídia. O processo que pode condenar os dez policiais acusados por terem metralhado por engano uma Hilux em 2007, por exemplo, ainda não evoluiu para um julgamento. No meio do caminho, falta a Justiça ter em mãos o resultado do exame de comparação balística para determinar de onde procederam as balas que atingiram o carro e deixaram três pessoas feridas. Entra elas, o espanhol Marcelino Ruiz Campelo, que ficou paraplégico.
O diretor da 2ª Vara do Júri, Horácio França, explica que o juiz ainda nem chegou a se pronunciar, admitindo ou não a acusação, passo anterior a um possível julgamento. Desde novembro do ano passado, o processo espera para ser complementado pelo laudo. Segundo França, o exame foi requerido ainda em maio de 2008 à Perícia Forense do Estado. Já de acordo com a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Estado (SSPDS), a Justiça teria feito o pedido ao Instituto Nacional de Criminalística, em Brasília, e não ao órgão local.
O policial Francisco Carlos Barbosa Ribeiro, que confessou ter atirado dentro de uma topic e atingido acidentalmente a estudante universitária Nádia Brito, no ano passado, também não foi julgado. O caso corre na 4ª Vara do Júri e o juiz decidiu que o cabo da PM deve ir a júri popular. Mas a defesa do acusado, no entanto, recorreu. Depois de o promotor também enviar documento a respeito, esta semana, o recurso ainda deve ser julgado.
Enquanto isso, o capitão da Polícia Militar e também protagonista de um caso que marcou os noticiários, Daniel Gomes Bezerra, permanece preso no Quartel do Batalhão de Choque da PM. Ele também não foi julgado, após ser acusado de ter assassinado os irmãos e estudantes de Medicina irmãos Leonardo e Marcelo Moreno Teixeira, em março de 2007, em Iguatu, a 395 quilômetros de Fortaleza. Ele é o único, dos policiais envolvidos nos casos citados, a estar afastado das funções.
Demora na PM
Os dez policiais indiciados pela ação que vitimou o espanhol Marcelino Ruiz voltaram às unidades de origem na PM. O acusado de ter assassinado a estudante Nádia também voltou ao serviço, no policiamento a pé. O major Marcos Costa, relações públicas da PM, explica que nos dois casos foram concluídos os processos administrativos necessários para que o comandante-geral decida pela expulsão ou não dos PMs.
Os documentos, no entanto, ainda estão sendo avaliados pela assessoria jurídica da Polícia, antes de uma decisão oficial do comandante-geral. O processo mais avançado é o do capitão Daniel, que se encontra na Procuradoria Geral do Estado (PGE), mas ainda precisa ser publicado no Diário Oficial.
ENTENDA OS CASOS
Caso Hilux
Em 26 de setembro, Innocenzo Brancati e a esposa, Denise Campos, foram ao aeroporto recepcionar o casal espanhol Marcelino Ruiz (foto) e Maria Del Mar Santiago. No retorno, a Hilux guiada por Innocenzo foi confundida com um carro utilizado para o roubo a um caixa-eletrônico. Policiais abriram fogo contra o veículo baleando Marcelino, que ficou paraplégico. Innocenzo, que levou um tiro no braço e Denise foi lesionada na perna. Maria Santiago foi a única não baleada.
Capitão Daniel
Em 17 de março de 2007, os irmãos Marcelo, 26, e Leonardo Teixeira, 24, estudantes de Medicina, foram assassinados por volta das 3 horas em uma churrascaria localizada em Iguatu. O capitão da PM Daniel Gomes Bezerra, então comandante do destacamento de Mombaça, foi acusado do crime.
Nádia Brito
Em 15 de abril de 2009, o cabo da Polícia Militar Francisco Carlos Barbosa Ribeiro, ao sair do trabalho, na Aldeota, apanhou uma topic para ir para casa. Na van, estavam torcedores do Fortaleza. No caminho, ao passar pela praça da Cruz Grande, no Itaperi, a topique foi apedrejada por um grupo de torcedores. O policial militar reagiu disparando de dentro da van em direção aos torcedores e atingiu a cabeça de Nádia Brito, estudante da Universidade Estadual do Ceará (Uece).
Larissa Lima – 02:00