Negócio entre PM e Pavuna será investigado
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- 15-04-2011
15.04.2011
Fortaleza
Fabinho cobrou o policial quanto aos R$ 70 mil pela fuga frustrada, conforme escutas telefônicas (Rafael Cavalcante) Com base em matérias publicadas por O POVO (ver fac-símile), a Procuradoria Geral da Justiça (PGJ) solicitou que o comando da Polícia Militar do Ceará (PM) instaurasse um inquérito contra o soldado V.F., acusado de ter recebido R$ 70 mil do sequestrador e assaltante de bancos Fabinho da Pavuna (Francisco Fabiano da Silva Aquino) para executar um plano de fuga no Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS). O militar foi flagrado por interceptações telefônicas com Pavuna, em 2006, durante trabalhos da Operação Paraíba da Polícia Civil.
O Ministério Público Estadual recomendou à PM o procedimento que a Superintendência da Polícia Civil não fez em cinco anos. Por e-mail, o comandante da Corporação, coronel Werisleik Matias, informou que não sabia da existência da Operação Paraíba e que havia sido informado sobre as escutas envolvendo o policial e Fabinho da Pavuna através das reportagens do O POVO. O policial, segundo Werisleik, não respondia a nada até então.
Depois de acionado por portaria da PGJ, o comandante da PM resolveu nomear o tenente-coronel Roosevelt Alencar, do Batalhão de Policiamento Turístico (Bptur), para presidir as investigações no Inquérito Policial Militar (IPM) contra o soldado V.F.. Segundo o major Fernando Albano, Relações Públicas da Polícia Militar, a apuração do caso será iniciada formalmente a partir da próxima segunda-feira, dia 18. Os oficiais têm até 60 dias para concluir a investigação (40 prorrogáveis por mais 20), podendo indicar a possível expulsão à Procuradoria Geral do Estado (PGE).
O caso
Em 2006, depois que o juiz da 1ª Vara do Crime autorizou interceptações nos celulares de Pavuna, o soldado V.F. foi flagrado em conversas com o sequestrador e assaltante de bancos. O presidiário cobrava do militar o reembolso de R$ 70 mil. O dinheiro havia sido repassado ao PM para viabilizar um plano de fuga que acabou não dando certo à época.
O soldado, então lotado na 2ª Companhia de Guarda do Presídio, não imaginava que as ligações telefônicas de Pavuna estivessem sendo monitoradas por policiais civis que trabalhavam na Operação Paraíba.
Sem temores, apesar de negociar com Fabinho da Pavuna, o PM se justificava ao telefone que o dinheiro havia sido gasto pelo traficante de drogas, e seu ?parceiro?, André Luís Soares de Oliveira, conhecido por Dragão. Bandido que, segundo o processo 2006.01.18468-8, teria fugido com outros três presidiários pela porta da frente do Instituto Presídio Professor Olavo Oliveira (IPPOO I), no Itaperi, em 2006. Graças ao apoio do soldado.
Ao fugir do IPPOO I, segundo explicava o soldado a Pavuna, Dragão teria ido se esconder em Mato Grosso. E lá, de posse da maior parte dos R$ 70 mil, teria comprado drogas para negociar no Ceará. Mas, por um descuido, teria perdido tudo ao cair nas mãos de policiais matogrossenses. Estranhamente não foi preso ali. Acabou recapturado em Caridade, por participação do assalto ao Banco do Brasil local.
Da fuga frustrada em 2006, Pavuna conseguiu escapar do IPPS em agosto de 2010. A Polícia o aponta como mentor do resgate de 10 presos do IPPOO II, em Itaitinga, em 5 de fevereiro último.
E agora
ENTENDA A NOTÍCIA
Quantos inquéritos foram abertos motivados por relatórios de interceptações telefônicas da Operação Paraíba? Resultaram em quantos processos? Por que o PM demorou a ser citado como acusado de facilitar fuga?
Pistas na Operação Paraíba
O processo 2006.01.18468-8, que pertence à 1ª Vara do Crime, contém parte da Operação Paraíba coordenada pela Polícia Civil. Em 11 de outubro de 2006 foram autorizadas escutas telefônicas no celular do sequestrador Fabinho da Pavuna. Segundo informações do site do Tribunal de Justiça, a última movimentação do processo ocorreu em 14 de novembro de 2008.
Apesar das interceptações telefônicas que apontam conversas do soldado com o sequestrador na negociação de armas e fuga que não deu certo, nenhum inquérito foi aberto nem procedimento na Corregedoria dos Órgãos da Segurança Pública.
O soldado V.F., segundo relatório das escutas telefônicas, tinha relações de negócios com o sequestrador Fabinho da Pavuna e o traficante André Soares de Oliveira, o Dragão. O policial teria facilitado a fuga de Dragão do IPPS em 2005. Juntamente com Dragão fugiu Raimundo Nonato Castro e Silva.
Segundo relatório das interceptações, Fabinho da Pavuna recebeu R$ 70 mil por uma fuga do Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS). O policial repassou parte do dinheiro para o traficante Dragão, que fugiu para o Mato Grosso com a finalidade de comprar drogas. Lá, foi preso pela polícia que apreendeu a mercadoria e o que havia de dinheiro.
Fabinho da Pavuna passou a cobrar o dinheiro do soldado V.F., já que a fuga não aconteceu. Nas conversas grampeadas por ordem judicial pela Polícia Civil, o militar propõe a Pavuna pagar a dívida com armas.
Chega a comentar ao telefone que ouviu dizer que Fabinho da Pavuna queria matá-lo. Pavuna diz que não. Afirma que está na vida para ganhar dinheiro e ter liberdade.
Fabinho da Pavuna fugiu em agosto de 2010 pela segunda vez, em uma ação cinematográfica. Foi recapturado no dia 18 do mês passado ao lado de Alex Gardenal no Maranhão. Gardenal e mais nove presos haviam sido resgatados dia 5 de fevereiro deste ano do IPPOO II, em Fortaleza.
Demitri Túlio
demitri@opovo.com.br