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Mães por uma sociedade mais diversa e inclusiva  

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Na sexta matéria da série “Muitos jeitos de ser mãe”, produzida pela Assessoria de Comunicação do TJCE, acompanhe as vivências de servidoras do Judiciário cearense que são mães com deficiência, ou mães de filhos com deficiência ou atípicos. Mais do que serem vistas como exemplos de superação, o que essas mães buscam é uma sociedade verdadeiramente inclusiva e acessível para todos  

 

 

A inclusão social das pessoas com deficiência passa pela superação de barreiras físicas, econômicas e culturais, que ainda impedem que todos tenham as mesmas oportunidades de crescer, se desenvolver e participar da vida em sociedade. Nesse cenário, mães com deficiência, assim como mães de filhos e filhas com deficiência ou transtornos, precisam enfrentar aquele que é o maior dos obstáculos: o preconceito.   

Ao mesmo tempo que lutam contra estereótipos e para garantir o acesso a direitos e a serviços adequados, essas mães ajudam a construir uma sociedade mais justa, diversa e acolhedora, onde a inclusão é uma prática concreta na vida cotidiana.  

 

 

Tullyane Rodrigues de Oliveira, de 29 anos, possui deficiência auditiva e trabalha na Seção de Malotes do Fórum Clóvis Beviláqua. Durante a entrevista para esta matéria, ela usava calça jeans, blusa e sapatilhas na cor preta. Ela estava visivelmente animada com a oportunidade de compartilhar sua vivência com a maternidade, por meio da intérprete de Língua Brasileira de Sinais (Libras), Ana Jaqueline Cavalcante.  

Mãe de Ana Isadora, de quatro aninhos, Tullyane recorda o momento em que soube da gestação e afirma que não ficou tão apreensiva, devido a sua experiência anterior cuidando de outras crianças. “Na época, eu estava solteira e acabei descobrindo que estava grávida. Então, percebi que teria uma grande responsabilidade. Mas, como eu já tinha sido babá, todo o aprendizado e experiência me ajudaram com minha filha”, relembra.  

No entanto, apesar do traquejo com os bebês, Tullyane inevitavelmente se preocupava com as dificuldades que permeavam a relação com a sua primogênita. Ana Isadora nasceu ouvinte e, a partir disso, a mamãe precisou ajustar a comunicação dentro de casa para compreender as necessidades de sua menina. “Eu ficava aflita porque, se eu estivesse na cozinha fazendo algo, como perceberia que minha filha estava precisando de mim? Então, passei a adaptar tudo e a ensinar Libras para ela. Comecei também a ficar mais próxima para conseguir entender os pedidos dela. Foi um processo difícil, mas fluiu”, destaca.  

Além dos obstáculos para uma criação bem-sucedida, Tullyane se deparou com mais um problema: o preconceito. Ser mãe já é uma jornada repleta de desafios, mas para ela, que é surda, as dúvidas e os julgamentos externos sobre a sua capacidade de educar a criança eram constantes. “A maioria das pessoas dizia que eu não sabia de nada e não poderia criar a minha filha. Mas fiz questão de enfrentar os preconceitos e mostrar à sociedade que posso todas as coisas”, diz a mãezona com convicção.  

Essa resiliência não apenas fortaleceu seu vínculo com Ana Isadora, mas também serviu como ferramenta contra os estereótipos que muitas vezes limitam as percepções sobre as habilidades das pessoas com deficiência. Tullyane deseja que sua filha “cresça com esperança por um mundo melhor” e ressalta que é necessário que todos aprendam a “respeitar e acolher as diferenças”.  

 

 

Para mães de filhos com deficiência, o cuidado e o afeto são as principais ferramentas de inclusão. Uma dessas mulheres é Maria Rizoneide Pinheiro, ou Dona Rizoneide, de 70 anos, mãe de seis filhos, sendo a primogênita Rogéria Maria Pinheiro, de 53 anos, arquivista do Tribunal de Justiça do Ceará.   

No sertão de Milhã, o contexto de Dona Rizoneide é o inverso da história apresentada anteriormente – é uma mãe ouvinte com uma filha surda. Devido à distância, nossa conversa para esse texto se deu por ligação. Contudo, por uma imagem de perfil nas redes sociais, percebe-se uma mulher firme, com sorriso tímido, cabelos curtos e escuros, usando óculos.  

Apesar das dificuldades financeiras e de acesso a muitos serviços, que ainda faltam em cidades do Interior, ela conta com carinho do nascimento de sua primeira filha, que veio ao mundo um mês antes do previsto. “Foi a melhor coisa que me aconteceu. Foi minha primeira, marcou. Uma emoção muito grande”, recorda.  

Sobre a deficiência auditiva de Rogéria, Dona Rizoneide relata que descobriu logo aos dois meses de vida da menina, pois ela não respondia às interações. Mais tarde, o diagnóstico foi confirmado por especialistas. Diferente dos outros casos, ao invés de a família pautar uma comunicação acessível, a mãe destaca que foi a própria Rogéria quem os adaptou e os ensinou a lidar melhor com a sua deficiência. “Ela sempre foi muito esperta e inteligente, o que queria ela tentava mostrar a gente. Nós aprendemos muito com ela e depois de crescida foi ficando mais fácil”, pontua.  

Dona Rizoneide expressa o orgulho que tem da filha e destaca as qualidades. “Ela significa tudo pra mim. É uma mulher religiosa, determinada, que não reclama da vida, corre atrás dos seus desejos e merece tudo de melhor”, conclui com altivez. Essas palavras refletem não apenas o carinho materno, como a admiração por uma filha que, apesar dos contratempos impostos pela sociedade, demonstra força para conquistar seus sonhos.  

 

 

Bem-humorada, de cabelos amarrados, blusa estampada e com um sorriso marcante, Rosângela Evangelista, coordenadora de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados e Servidores da Escola Superior da Magistratura do Ceará (Esmec), compartilha suas alegrias e angústias como mãe solo de Rafael, de 29 anos, que ainda quando criança apresentou déficit de aprendizagem. Ela relembra as dificuldades vivenciadas no processo de formação educacional do filho. “No período escolar foi difícil e se estendeu à faculdade. Todo dia é uma luta, mas eu não desisto do meu filho”, destaca.

Como pedagoga, psicopedagoga e bacharel em Direito, Rosângela tem um compromisso ativo com o ensino e uma jornada determinada pela persistência em abrir caminhos para o conhecimento. Entretanto, em sua jornada pela maternidade, viu-se muitas vezes diante das dificuldades em aplicar o que aprendeu em suas formações para auxiliar o filho. “Muitas vezes me senti frustrada, insegura e aí vem a pergunta, onde eu falhei? A gente sempre se culpa quando é mãe”, lamenta a coordenadora.

Sentimentos de cansaço, desânimo e frustração fazem parte da jornada da maternidade, especialmente na rotina de mães de filhos atípicos ou com alguma condição que demanda cuidados intensificados. Mais do que construir uma imagem romantizada que coloca essas mães como heroínas ou como exemplos de força e superação, é necessário garantir direitos e políticas públicas que respeitem as características individuais e ofereçam a cada um as condições de desenvolver seu potencial. Com isso, as mães podem ter esperança e acreditar em um futuro melhor para seus filhos, como faz Rosângela: “Meu maior desejo é ver ele trabalhando, estudando e vivendo feliz”, conclui.

 

 

 

A Comissão Permanente de Acessibilidade e Inclusão, instituída pela Portaria n° 1896/2016 do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), tem por objetivo planejar, fiscalizar e acompanhar os projetos relacionados à temática da acessibilidade. Além disso, o grupo promove treinamentos para os profissionais que atuam em parceria com as pessoas com deficiência, atendendo às recomendações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que orienta, por meio da Resolução n° 230/2016, a criação de estratégias no âmbito do Poder Judiciário para construção de um ambiente diverso e inclusivo. 

 

 

 

A série de reportagem “Muitos jeitos de ser mãe” segue durante este mês, em homenagem ao Dia das Mães, comemorado no dia 12 de maio. Por meio de relatos de magistradas e servidoras da Justiça, traz um olhar para a maternidade real, em sua pluralidade de vivências e desafios. A série destaca também os serviços oferecidos pelo TJCE que beneficiam as mães, sejam elas profissionais ou usuárias da Justiça.

A primeira matéria contou histórias de servidoras que, mesmo diante de obstáculos, encontraram caminhos para exercer a maternidade (Acesse aqui). Na segunda, mães de primeira viagem compartilham os sentimentos e desafios do puerpério (Clique aqui). A terceira matéria mostrou as transformações da maternidade em diferentes fases da vida (Acesse aqui). A quarta parte abordou a busca pelo equilíbrio entre carreira e maternidade (Confira aqui), enquanto a quinta destacou a jornada de mães negras no enfrentamento da discriminação racial (Clique aqui).

O último tema será a importância de cuidar, também, de quem cuida. Continue acompanhando nos canais de comunicação oficiais do TJCE.