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Advogado Aurenilo Oliveira, que é cego, foi um dos palestrantes do evento

“Justiça de Olhos Abertos”: palestras promovidas pelo TJCE incentivam estudantes cegos a seguirem carreira no Direito

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A primeira edição do projeto “Justiça de Olhos Abertos” do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) foi concluída com a realização de três palestras para público formado por estudantes cegos ou com baixa visão do Instituto Hélio Góes, além de professores e gestores da Sociedade de Assistência aos Cegos (SAC). O projeto, inédito no âmbito dos tribunais do país, tem como objetivo promover inclusão e acessibilidade no Judiciário cearense e ainda despertar nos jovens o interesse pela área do Direito. Clique AQUI para ver o vídeo.

Laíssa

Para Laíssa de Fátima, 15 anos, que sonha em seguir carreira na Advocacia, a palestra do advogado, cego dos dois olhos, foi um estímulo. “Ele, mesmo com a deficiência, conseguiu. Então, em meio às dificuldades, a gente também consegue. Para mim, entrar na área do Direito é um sonho muito grande e ver as histórias de superação me motiva”, relata.

A jovem se referiu ao advogado Aurenilo Oliveira, que falou sobre as dificuldades que precisou superar na sua trajetória profissional. “Se vocês têm um objetivo, seja se tornar um advogado, um magistrado, defensor ou promotor de Justiça, vocês precisam lutar com todas as forças. Irão existir momentos em que a tecnologia não vai ser suficiente, mas saibam que Deus sempre manda alguém pra nos ajudar”, garantiu. “As dificuldades, os preconceitos e os pensamentos negativos sempre vão existir, mas a gente tem que passar por cima de tudo isso. O nosso caráter e nossa competência é que nos fazem evoluir”, completou o profissional, que atua nas áreas Trabalhista e Previdenciária.

Marlin Rodrigues, cego, servidor do TJCE há oito anos, lembrou a importância da autoestima para superar atitudes preconceituosas

O juiz Edilberto Lima, que é Auxiliar Privativo da 1ª Vara do Júri de Fortaleza, desenvolveu a temática “O papel do magistrado na sociedade”. Ele citou que a sociedade contemporânea está cada vez mais vigilante e, portanto, cobra que os direitos de todos os públicos sejam sempre garantidos. “A inclusão e acessibilidade são temas imprescindíveis ao sistema de Justiça. Nesse sentido, parabenizo ao Tribunal de Justiça e ao Instituto dos Cegos pela parceria firmada em que o maior beneficiado são as pessoas com deficiência visual”.

             Pedro

Outro que elogiou foi o aluno Pedro Sales de Oliveira, 14 anos. Ele disse que um evento como o de hoje não é relevante somente para pessoas cegas, mas também para aqueles com boa visão. “Foi muito importante, principalmente, para quem não é pessoa com deficiência, pois ficou sabendo o que a gente passa no dia a dia. Além disso, nos mostra que tudo é possível, nada é impossível. A deficiência atrapalha um pouco, mas não impossibilita a gente de viver o que queremos”, afirmou.

Completando o trio de palestrantes, o servidor do Judiciário Marlin Rodrigues, cego dos dois olhos, compartilhou detalhes sobre sua trajetória e as funções que exerce no 1º Juizado Especial Cível, no bairro Antônio Bezerra, onde é lotado. Ele explicou aos alunos que a Justiça está cada vez mais adaptada e inclusiva. Também informou que consegue fazer todas as tarefas necessárias no seu ambiente de trabalho. Segundo ele, os maiores obstáculos para ascensão profissional das Pessoas com Deficiência (PcD) estão relacionados com atitudes preconceituosas das outras pessoas, mas que é necessário desenvolver a autoestima para superar e não deixar se abater com tais atitudes.

O projeto tem como objetivo promover inclusão e acessibilidade de estudantes cegos ou com baixa visão na Justiça

Em sua fala de boas-vindas ao grupo, o coordenador do projeto “Justiça de Olhos Abertos”, jornalista Ilo Santiago Jr., ressaltou que a Assessoria de Comunicação tem como missão aproximar a sociedade do Poder Judiciário. “Estamos felizes em concluir este trabalho, inédito no país. É a primeira edição e espero que outras venham. E minha mensagem para vocês é: sonhem grande, não sonhem pequeno, porque quando sonhamos grande, somos levados ao caminho que leva à concretização do sonho”, aconselhou.

A PARCERIA

O “Justiça de Olhos Abertos” começou em 2022, quando a então chefe do Judiciário cearense, desembargadora Maria Nailde Pinheiro Nogueira, e a presidente da SAC, Maria Lizélia Sá e Almeida Soares, assinaram um convênio para a execução do projeto idealizado pela Assessoria de Comunicação do TJCE. Por meio da iniciativa, o Tribunal custeou a produção de 330 cartilhas em Braille e doou para os estudantes e providenciou duas visitas-guiadas à Justiça estadual. “Eu acho um projeto importantíssimo pela inclusão que realiza. Isso é uma maravilha, vai diminuindo o preconceito que infelizmente ainda existe. A Sociedade de Assistência aos Cegos estará sempre aberta a novas parcerias”, pontua a vice-presidente da SAC, Josélia Almeida.

O trabalho teve continuidade com o atual presidente do Tribunal, desembargador Abelardo Benevides Moraes, que deu total apoio para realização da primeira visita-guiada dos alunos, onde conheceram a estrutura de funcionamento do Fórum, em abril deste ano, oportunidade em que acompanharam uma sessão de julgamento do júri; a segunda visita ocorreu nessa sexta-feira (29/09), para o encerramento da primeira edição do projeto com a promoção das três palestras.

Mateuzinho do acordeon é ex-aluno do Instituto dos Cegos, onde atualmente trabalha no Setor Gráfico e faz apresentações musicais em eventos

SÓ O ESSENCIAL
O evento de encerramento contou com apresentações musicais do artista cego Mateuzinho do Acordeon, que lembrou que a palavra “cego” é, muitas vezes, utilizada de maneira pejorativa, com exceção da expressão “A Justiça é cega”. Para ele, a “Justiça não vê o que não precisa, assim como eu”.

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