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Judiciário promove ressocialização por meio de tarde cultural para adolescentes de centros socioeducativos

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Adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas tiveram uma tarde de músicas e poesias nesta sexta-feira (12/07). Os jovens participaram do “Caminhos Literários no Socioeducativo: Pelo Direito à Cultura”, que contou com o apoio do Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e de Execução de Medidas Socioeducativas (GMF) do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE). Organizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o evento está na terceira edição e utiliza a arte com instrumento de transformação social.

“A manifestação cultural é realmente algo imprescindível na socioeducação. A ação de hoje reflete um pouco da importância de possibilitar aos jovens o encontro com a arte, e reforça o protagonismo deles na construção de suas histórias”, defende a juíza Kathleen Nicola Kilian, titular da Vara Única da Infância e Juventude de Sobral. A magistrada, que acompanhou a ação no Centro Socioeducativo Canindezinho, em Fortaleza, destaca a relevância do evento para impulsionar o potencial daqueles que estão em um contexto de privação de liberdade, para que voltem à sociedade com ideias ressignificadas sobre cultura e educação.

“Meu pai era cantor, meu tio é compositor. Lá fora eu não pensava nessas coisas. Foi preciso cair aqui para entender o que é bom para mim. Cada dia mais, a gente vê o que temos por dentro. Eu estou muito feliz e sinto o carinho das pessoas que vieram nos assistir”, conta João*, de 17 anos, um dos adolescentes que se apresentaram no sarau.

Davi*, também de 17 anos, lembra que aprendeu a cantar e a compor dentro do Centro Socioeducativo. “Quando eu cheguei aqui, senti que tinha esse dom. Nos primeiros dias fiquei nervoso, mas depois fui perdendo a timidez”, relata.

 

 

Para a diretora do Centro Socioeducativo, Ariane Souza, esses momentos são fundamentais para promover a ressocialização. “Os meninos se empenham muito. Infelizmente, na sociedade, ainda há uma tendência de divulgar o que é negativo. Aqui, sempre tentamos mostrar o lado positivo, e nós temos muito que apresentar aos adolescentes. Eles têm muitas habilidades, muitas vezes, dentro do socioeducativo, é que eles têm a oportunidade de trabalhar isso”, afirma, acrescentando que a cultura serve de base para estimular também a profissionalização, a educação, o lazer e o esporte, possibilitando uma verdadeira transformação na vida dos jovens.

A assistente social Jorgiane Pinheiro, integrante da equipe técnica do Canindezinho, explica que esse primeiro sarau foi enriquecedor para os profissionais que atuam com os adolescentes. “Espero que consigamos levar para as outras unidades que ainda não fizeram esse trabalho. Queremos mostrar para a sociedade, para que as pessoas entendam que o que fazemos aqui é algo ativo, e que tentamos mostrar para os adolescentes que eles são capazes de mudar a realidade e todo o contexto histórico deles”.

 

 

AÇÕES NO CEARÁ
O evento faz parte de um movimento nacional, promovido pelo CNJ para fomentar a cultura com a participação tanto dos jovens, quanto de juízes e demais profissionais do Sistema de Justiça. Além do TJCE, o Caminhos Literários tem o apoio da Superintendência do Sistema Estadual de Atendimento Socioeducativo (Seas).

Em Fortaleza, foi realizada também uma roda de conversa e apresentações musicais no Centro Socioeducativo Aldaci Barbosa Mota, que atua com público feminino. Lá, no âmbito do projeto Águas de Março, foi ampliado o debate sobre a vida de mulheres com expressividade no campo literário, cultural e artístico dentro e fora do país.

Já em Juazeiro do Norte, os adolescentes do Centro Socioeducativo Padre Cícero visitaram o Centro Cultural do Cariri, espaço dedicado à discussão sobre artes, ciência, cultura e natureza aliadas à tradição cultural e à sustentabilidade.

Na próxima terça-feira (17/07), as apresentações da unidade Aldaci Barbosa serão transmitidas para todo o Brasil, a partir das 15h30. No dia seguinte, os jovens das três unidades citadas assistirão às atividades que estão sendo realizadas em outros estados.

 

 

*Nome fictício para proteger a identidade do adolescente