Inserção no mercado de trabalho ajuda mulheres a romperem o ciclo de violência doméstica
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- 20-05-2024
Repórter: Brenda Alvino
Luana* foi casada por 10 anos e tem três filhos, com idades de quatro, oito e onze anos. Ela só percebeu que o casamento havia se transformado em uma relação abusiva quando o ciúme e a pressão psicológica do marido chegaram ao extremo. “Sofri violência psicológica, que quase me levou à loucura, e violência sexual. Se eu não fizesse relação sexual com ele, ele não me deixava dormir. Eu tinha a sensação de que era propriedade dele e chegou em um ponto que eu estava sufocada. Diante disso e de outras coisas, percebi que não tinha direito de escolha e resolvi fazer a denúncia”.
Foi a partir deste ato de coragem que Luana viu a vida tomar um outro rumo. Quando fez a denúncia contra o marido, perguntaram se ela tinha interesse de se profissionalizar em alguma área para ingressar no mercado de trabalho. Luana não trabalhava por causa do ciúme do marido e a oportunidade de estudar foi o pontapé inicial para recomeçar após tantos traumas. “Passei sete meses seguidos fazendo cursos na Casa da Mulher Brasileira. Terminava um, começava outro. Cursei Auxiliar Administrativo, Auxiliar de Recursos Humanos, Operador de Telemarketing e Atendimento ao Cliente. Com essa oportunidade consegui me qualificar e hoje trabalho como recepcionista e recreadora”.
Sofrimento e coragem também fazem parte da história de Mariana*. Ela sofreu violência doméstica do ex-marido durante cinco anos. Mesmo divorciados, ele não saía da casa onde ela morava com os três filhos, dois deles autistas. Depois de três anos livre da violência física e da perseguição do ex-companheiro, Mariana montou um salão de beleza em casa e atende à vizinhança. Para complementar a renda, ela também trabalha como cuidadora de idosos. “Denunciei os abusos e as perseguições que sofri, e encontrei na Casa da Mulher Brasileira a chance de estudar. Fiz vários cursos de Informática, Cabelereira, Manicure e Recursos Humanos. Hoje faço curso de Penteado aos sábados. Eu estava precisando muito mudar de vida”, contou.
PARCERIA
Para romper o ciclo da violência, Luana e Mariana transformaram a dor e o sofrimento, em coragem para denunciar e sonhar com uma vida melhor. Livres, agora elas podem ter suas próprias escolhas. O recomeço delas e de outras nove mulheres que já conseguiram voltar ao mercado de trabalho se tornou mais fácil com o acesso à educação, proporcionado pela parceria do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) com o Governo do Estado, por meio da Secretaria da Proteção Social, e a Federação das Indústrias do Ceará (FIEC), que viabilizou mais de 300 vagas para cursos profissionalizantes realizados nas dependências da Casa da Mulher Brasileira, em Fortaleza.
O convênio, firmado em fevereiro do ano passado, é resultado do compromisso da atual Gestão do Tribunal com enfrentamento à violência doméstica. Para o presidente do TJCE, desembargador Abelardo Benevides Moraes, a reinserção das vítimas de violência doméstica no mercado de trabalho traz um novo significado para a liberdade e a autonomia delas. “Infelizmente, essa é uma pauta muito atual da sociedade. Todos nós temos a consciência do estágio que chegou e estamos agindo não só para acabar esse quadro de violência, mas para dar oportunidade a essas mulheres. É muito bonito ver que elas estão se reerguendo, conquistando autonomia econômica para elas e para os filhos”, destacou o chefe do Poder Judiciário.
Segundo o presidente da FIEC, Ricardo Cavalcante, convênios como esse são fundamentais na luta contra a violência. “Através dos cursos profissionalizantes disponibilizados pelo Senai Ceará e SESI Ceará, conseguimos quebrar um forte vínculo, o da dependência financeira, possibilitando que essas mulheres possam cuidar de seus filhos e de suas vidas com dignidade, com um emprego e futuro”.
Feliz e independente, Luana só tem a agradecer todo o apoio e o aprendizado que recebeu durante o período de estudos. “Agora estou ótima. Os cursos me ajudaram muito, foram uma terapia, e trouxeram uma nova oportunidade de emprego. Agradeço a todos que abriram as portas para mim”.
*Luana e Mariana são nomes fictícios usados para contar a história de duas mulheres vítimas de violência doméstica que preferiram não se identificar.