Conteúdo da Notícia

Incerteza no Carnaval gera prejuízo em Aracati

Ouvir: Incerteza no Carnaval gera prejuízo em Aracati

04.03.2011 Regional
Ao contrário de anos anteriores, sobram vagas em imóveis e em hotéis de Aracati, diante da decisão da Justiça
Aracati Decisões judiciais tão à véspera do Carnaval deixaram apreensivos empreendedores turísticos e os foliões com planos de ir para Aracati. Muitos moradores que alugaram a casa para os quatro dias de festa, com pagamento adiantado, amargam o cancelamento e a devolução do dinheiro. Em outros casos houve redução de 50% nos alugueis para o prejuízo não ser maior. O folião quer fugir da incerteza às vésperas do Carnaval.
“Foi um verdadeiro desastre. Em alguns casos, houve desistência de 60% nas reservas”, afirma Paulo César, falando da desistência de foliões para algumas casas para alugar na temporada. “Tive que dar o dinheiro de volta”, lamenta. É comum, em Aracati, dezenas de famílias deixarem suas casas e irem para a casa de parentes, enquanto alugam a casa própria para os quatro dias de festa por valores entre R$ 1.500 e R$ 2 mil.
Mas na Rua Cônego João Paulo, onde é tradicional a mudança temporária dos moradores para alugar a casa no Carnaval, as famílias não conseguiram vender reserva. Das 14 casas que geralmente são alugadas, somente cinco conseguiram manter a reserva. Uma delas é a da dona Maria Liduína, que recebeu a ligação dos locatários informando a desistência e o pedido de devolução, mas ela conseguiu “segurar” com a garantia de desconto de 50% no valor do aluguel. É o estranho quadro da cidade com um dos carnavais mais animados do Ceará: sobram vagas em Aracati.
O dono de pousada, Henrique Eduardo, lamenta que dos seis apartamentos à disposição, somente um está alugado. O motivo foi a desistência diante da incerteza sobre a realização do Carnaval. E, de três casas que dispôs para alugar, em duas precisou devolver o dinheiro. “A única que está alugada ficou mantida porque é uma família de Pernambuco que está vindo para descansar, independente de ter ou não Carnaval”, afirma.
Liberação da ponte
Mas não foi só a decisão judicial de primeira instância, no início da semana, que motivou a desistência das reservas. Houve reclamação quanto ao atraso no anúncio das atrações. Outro problema é a demora na reforma na BR-304, com apenas uma faixa liberada na Ponte Juscelino Kubitschek, sobre o Rio Jaguaribe. No feriado de fim de ano, motoristas passaram quase duas horas para atravessar de um lado para outro da ponte. O Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (Dnit) prometeu para até hoje a liberação da ponte nova, mas, ontem pela manhã, ainda era feita a pavimentação asfáltica.
Tanta coisa de última hora deixa o folião apreensivo e, para sair da dúvida, muitos desviaram o roteiro para outros destinos litorâneos, como o vizinho Município de Beberibe, que registra lotação nos hotéis, pousadas e casas de veraneio na Praia de Morro Branco, ponto alto da folia no Litoral Leste.
A Associação dos Empreendedores de Canoa Quebrada (Asdecq) aponta que o cenário de não realização de Carnaval em Aracati representaria um prejuízo de pelo menos 50%. Mas a cadeia do turismo vai para além do dono de pousada ou do locador de imóvel. Tem o comércio local aquecido pela chegada de turistas, e mesmo as bandas que contratam dezenas de pessoas.
Mas o dilema da polêmica semana não é a importância do Carnaval, seja social ou economicamente, mas sobre a idoneidade de um Município que gasta R$ 2,2 milhões com quatro dias de festa ter por realidade um caos na saúde pública. O dinheiro gasto nos quatro dias de Carnaval é um valor próximo do que se gastaria para manutenção das instalações do hospital local por três anos.
A “novela” do Carnaval de Aracati durou exatos três meses, desde que o Ministério Público encaminhou uma Ação Civil Pública com sérias denúncias que denotavam o caos na saúde publica de Aracati. O hospital Dr. Eduardo Dias, que atende a cinco Municípios, era o ponto central do problema, faltando de médico a medicamento. O Ministério Público pedia que a Justiça proibisse a Prefeitura Municipal de fazer gastos com festas e publicidade enquanto não fossem resolvidos os problemas na saúde. A juíza Maria do Socorro Montezuma Bulcão atendeu e determinou, no início da semana, a suspensão do Carnaval. Até o fechamento desta edição, o Tribunal de Justiça não havia informado se mantinha ou derrubara a liminar deferida pela juíza.
Melquíades Júnior
Colaborador