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Impasse – Audiência lotada debate retirada de barracas

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24.11.2010 cidade
O plenário da Assembleia Legislativa do Ceará (AL) foi tomado por barraqueiros e trabalhadores da Praia do Futuro, ontem à tarde. O motivo foi a realização de uma audiência pública, requerida pelos deputados Artur Bruno e Dedé Teixeira, para debater a decisão judicial que determina a retirada das barracas da praia fortalezense e de Canoa Quebrada. A questão ainda está gerando impasse entre os empresários dos dois locais e gestores públicos municipais e estaduais.
Artur Bruno explicou que as barracas de praia já fazem parte do cenário turístico cearense. De acordo com ele, a permanência dos estabelecimentos é fundamental para a continuidade da vocação turística do Estado e garantia dos cerca de 20 mil empregos gerados direta e indiretamente. Entretanto, o parlamentar defende que as barracas devem adequar-se às leis vigentes e que os excessos cometidos pelos empresários sejam estudados e reavaliados.
?Precisamos ouvir, tanto da União como da Prefeitura, quais são as ilegalidades cometidas pelas barracas e modificá-las através de um consenso para que elas continuem dentro de determinadas condições e possam trabalhar da forma legal. Defendemos uma requalificação com a participação dos empresários de barracas para que não possa existir desemprego. Essas barracas já fazem parte da nossa cultura e do nosso imaginário?, destacou o deputado.
O diretor da Associação dos Empresários da Praia do Futuro (AEPF), Milton Aguiar, salientou que a decisão judicial é uma injustiça para os barraqueiros. Segundo ele, muitos empresários fizeram investimentos no local e cuidam da praia realizando a limpeza da areia e adubamento dos jardins do calçadão.
Aguiar disse ainda que poucas barracas ultrapassam a chamada ?linha de Marinha? (fato questionado pelo Ministério Público) e que o livre acesso à praia é respeitado pelos estabelecimentos praianos. ?Eles reclamam muito dos chamados resorts que são construídos na Praia do Futuro. E os verdadeiros resorts que são construídos no restante do litoral cearense? Ninguém fala nada?? questionou o diretor da AEPF.
SINAL DE ALERTA
O secretário Municipal de Meio Ambiente e Controle Urbano (Semam), Deodato Ramalho, após ser vaiado ao subir no palanque da AL, relatou que a decisão judicial foi um grande alerta à sociedade e aos barraqueiros. De acordo com ele, desde 2005 a Prefeitura de Fortaleza entende que é preciso realizar a harmonização da existência das barracas com a legalidade das construções.
?Defendemos a existência das barracas, mas temos que cumprir a lei naquilo que é extremamente imprescindível. É preciso que exista o respeito às condições estabelecidas pelo Patrimônio da União e as leis urbanas da cidade. O fato de ter ido para a Justiça, acredito que tenha sido uma incompreensão e falta de sensibilidade dos empresários?, lamentou Deodato.
TODOS UNIDOS
Muitos funcionários que trabalham na Praia do Futuro fizeram questão de comparecer à sessão para demonstrar indignação e cobrar a permanência dos estabelecimentos praianos. A supervisora de barraca Márcia Souza explicou que a retirada dos empresários vai causar grande prejuízo às famílias que tiram o seu sustento das areias do local. Segundo ela, a decisão judicial não contempla o lado dos trabalhadores que, há muitos anos, ajudam a alavancar o turismo do Estado e oferecem emprego a pessoas que não teriam outro meio de ganhar dinheiro.
?Se a decisão for mantida, cerca de três mil pessoas ficarão desempregadas. Tenho certeza que a retirada das barracas vai acabar com 100% do turismo do Estado, sem falar da destruição de anos de trabalho dos empresários. Na barraca em que trabalho, muitos funcionários são analfabetos. Se formos retirados, onde eles conseguirão emprego? Essa decisão é um absurdo? ressaltou Márcia.
Marieta Lima, que também supervisiona uma das barracas da Praia do Futuro, foi ainda mais incisiva e salientou que os estabelecimentos oferecem um conforto diferenciado aos turistas e cearenses que frequentam o local. Para ela, o fim das barracas vai ?matar? uma das principais praias do País e vai punir tanto os fortalezenses como o setor turístico cearense. A supervisora revelou que migrou do Acre exclusivamente para trabalhar e ?construir uma vida? em Fortaleza, sustentada pela Praia do Futuro.
?Essa decisão só vai tirar o conforto dos frequentadores da praia. Estamos morrendo de medo que isso aconteça e os nossos funcionários vivem nos perguntando como está o caso. Na maioria das vezes não sabemos o que responder. Isso faz com que eles fiquem apreensivos e também com medo?, lamentou ela.
?SOU PALHAÇO, MAS NÃO SOMOS PALHAÇOS?
Apesar do tema do debate ser polêmico, a audiência pública ofereceu momentos de descontração. Entre as centenas de pessoas que compareceram à sessão, uma chamava a atenção em particular. Artur Lima, mais conhecido como Palhaço Tutu, foi paramentado ao plenário e revelou estar triste com a possibilidade de não poder mais divertir as pessoas nas areias da Praia do Futuro.
Ele explicou que há 10 anos frequenta o local sempre levando alegria e diversão aos turistas. Segundo ele, seu trabalho como comediante sustenta seu filho e sua esposa. ?Tutu? destacou ainda que existem pessoas que trabalham no local há mais de 45 anos vendendo sanduíches e que serão ?extremamente? prejudicadas caso a decisão judicial seja mantida.
?Nessa discussão que envolve a Praia do Futuro, os governantes não podem esquecer que cerca de 20 mil empregos diretos e indiretos estão envolvidos. Existem pais, mães, palhaços e flanelinhas que dependem do emprego. Sem falar das companhias de turismo que vão quebrar com a retirada das barracas. Eu defendo sim que as barracas sofram ajustes, mas que permaneçam para que o trabalhador possa viver. Sou palhaço, mas peço que eles [governantes] não nos façam de palhaços?, pediu ?Tutu?.