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Da tela ao tato: chamadas de vídeo aproximam pretendentes e crianças aptas à adoção

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Pamela Lemos
Jornalista

A tela do celular se torna lugar de troca de afeto, aproxima quem se conhece e vira meio de apresentação de quem nunca esteve junto frente a frente. Nesse período de distanciamento social, todos estão contando com a tecnologia para manter ou iniciar vínculos. Com a balconista Joana* (nome fictício) não é diferente. Mas a principais videochamadas que ela tem feito ocorrem de segunda a sexta-feira, sempre no mesmo horário, e são aguardadas com bastante ansiedade.

“Nosso encontro é às 15h, ficamos meia hora juntas e é uma emoção muito grande. Tive medo que fosse deixar pra iniciar esse contato depois da pandemia, mas quando eu fui informada de que poderia fazer a chamada de vídeo, fiquei muito feliz. Se é o que tem, precisamos aproveitar”.

Joana é uma das pretendentes à adoção que está realizando a etapa de convivência por meio de videoconferência. Do outro lado da linha, a balconista conversa uma menina de 1 ano e 3 meses. “Estamos em contato desde o dia 23 de abril. Agora ela fica beijando a tela do celular e apontando o dedinho pra mim, já reconhece até a minha voz. É a minha filha!”.

De acordo com a Seção de Cadastro de Adotantes e Adotandos de Fortaleza, em razão da implantação do plantão extraordinário, que instituiu o TeleTrabalho como regime obrigatório, cinco vinculações foram iniciadas por videoconferência. Outras cinco, que já estavam ocorrendo antes do início da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), também tiveram o acompanhamento realizado por vídeo. Dessas, quatro vinculações terminaram em maio, quando foi deferido o pedido de guarda e iniciado o processo de adoção, já com outra equipe.

A psicóloga Beatriz Aragão, da Seção de Cadastro, tem acompanhado esses encontros virtuais. “A vinculação é exatamente a aproximação dos pretendentes para a possível criança, a partir do cruzamento de dados registrados no Sistema Nacional de Adoção. A partir disso, a gente marca o encontro, que geralmente ocorre nas instituições de acolhimento. Nesse momento, a videochamada foi a forma que pensamos de poder acelerar o processo, de não deixar parado nem para os requerentes e nem para as crianças”.

Segundo o assistente social Diogo Cals, “em virtude da pandemia e na ausência de outra possibilidade neste momento, consideramos que esses contatos devem continuar ocorrendo por videochamada, haja vista a importância de estabelecer vínculos entre adotantes e crianças e/ou adolescentes acolhidos”.

O horário e a frequência das chamadas de vídeo dependem de um acordo entre as famílias e as instituições de acolhimento, após autorização do Poder Judiciário. Na última terça-feira (26/05), a psicóloga Vanessa* (nome fictício) e o marido tiveram o primeiro contato com um menino de 1 ano e 7 meses que pretendem adotar.

“Sempre quisemos um casal. Já temos uma princesa, que está agora com 2 anos e 4 meses, e sabemos que esse contato virtual não é igual ao presencial. Mas, apesar da idade, ele interagiu bastante e nos emocionamos muito. Não vejo a hora de estarmos os quatro reunidos”.

*A reportagem utiliza nomes fictícios para as pretendentes porque a identidade das famílias é preservada pela Justiça enquanto o processo de adoção não for concluído.