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Crime passional: a morte da garçonete

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17.10.2010 opinião
A tragédia ocorrida na semana passada, no bairro Sapiranga, em Fortaleza, quando a jovem garçonete Marilene Gomes dos Santos, 23, foi encontrada morta ao lado de seu ex-namorado, o marceneiro Flávio Cavalcante da Silva, 42, tornou-se a matéria mais lida da semana pelos internautas.
O fato bem demonstra o nível de intolerância que permeia a relação entre homens e mulheres atualmente. Ciúme, possessão, insegurança, dúvidas e violência. O misto de tudo isso tem gerado uma sequência de mortes provocadas por motivos passionais no Brasil. No Ceará, o quadro não é diferente. Este ano, já são 121 casos de mulheres assassinadas, contra 136 crimes do tipo em todo o 2009. A maioria esmagadora destes assassinatos tem como pano de fundo o fim do relacionamento entre a vítima e seus parceiros, sejam namorados, esposos ou amantes. Fora disso, há aqueles episódios de latrocínios (roubo seguido de morte), balas perdidas, assassinatos por conta do tráfico de drogas e os erros de execução, delitos que aumentam diante da onda de criminalidade que assola o Ceará.
Passional
O histórico da conturbada relação entre a garçonete e seu namorado acabou tendo um fim trágico apesar de todo os esforços que Marilene teve na tentativa de evitá-lo.
Na tarde do último sábado, a garota saiu de casa, na Sapiranga, para ir trabalhar. Seguia para a lanchonete onde iria cumprir expediente até tarde da noite. Mas, no caminho, encontro seu ex-namorado.
O marceneiro Flávio não aceitava o fim do relacionamento que havia durado três anos, segundo a família da moça em depoimento à Polícia.
Testemunhas contaram que viram quando o casal passava pela rua em uma bicicleta. Ela, de cabeça baixa, parecia já demonstrar o que viria a acontecer. Por conta das constantes ameaças de Flávio, Marilene havia procurado as autoridades para tentar livrar-se do pesadelo. Prestou até três Boletins de Ocorrência (B.Os.), mas, infelizmente, nada adiantou.
Preocupada com o desaparecimento da garçonete, a família e os vizinhos iniciaram uma busca desesperada. No domingo, até um helicóptero da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer) teve que ser mobilizado para ajudar os policiais a fazer uma varredura em um extenso matagal para onde o marceneiro teria levado a garçonete.
No dia seguinte, os amigos se juntaram nas buscas e espalharam cartazes nas ruas e nos terminais de ônibus, com a fotografia do casal. Era a esperança de apressar a localização da garota e, talvez, a prisão do homem que estava a ameaçá-la.
Mortos
Mas, no começo da tarde de quarta-feira, exatamente quatro dias depois de seu desaparecimento, Marilene foi encontrada sem vida. O corpo estava exatamente no mesmo matagal onde, antes, a Polícia, amigos e vizinhos da garçonete tinham feito as primeiras buscas.
O duplo homicídio ganhou destaque na primeira página do jornal e repercutiu através dos programas policiais na televisão. Chegava ao fim mais ua história de mais uma mulher cearense vítima da incompreensão masculina.
Sorte, se é que assim pode-se dizer, é que, no mesmo dia, já à noite, outra história de ´desaparecimento´ encerrou-se de forma diferente, quando a Polícia localizou um bebê que havia sido raptado há uma semana da casa dos pais, na zona rural do Município de Horizonte.
Casos como o da garçonete Marilene e do marceneiro Flávio terminam quando os familiares enterram seus corpos. Se havia inquérito policial, este segue para a Justiça, que determina seu definitivo arquivamento, já que o criminoso não mais estar vivo para receber a devida reprimenda legal. Aos familiares, restam somente a dor e a saudade.
Comentários
Infelizmente, a Policia é inerte, pois quantas vezes a moça foi à delegacia dar queixas sobre ele e nunca fizeram nada para deter essa tragédia, como outras que aconteceram? Pelo amor de Deus, vamos mudar essa Policia que pra nós não passa de nada a coisa alguma.
Carlos de Alencar
Fortaleza-CE
O Estado é responsável por este crime, já que poderia ter evitado. Para que serve o Boletim de Ocorrência (BO)? Não é para que a Polícia tome providências e investigue qualquer que seja o fato? Neste caso, essa jovem fez três B.O. Minha dúvida é: será que esse rapaz foi chamado pelo delegado para uma conversa preventiva? É lamentável que em nosso Estado, em que nós pagamos impostos caros, a sigla B.O. ainda seja uma definição de “Boletim de Otário”. O preço que for estipulado, como indenização do estado para a família, não paga a vida desta jovem e outros fatos acontecidos idênticos. A vida não tem preço, mas que alerte o Estado para prestar mais atenção e respeitar o direito que nós, cidadãos brasileiros, temos, que é o direito à proteção à vida e à segurança. É um direito que está na Constituição Federal e não é gratuita, pois pagamos taxas de impostos, e por sinal altíssimas. Sou pai de quatro filhas, e sinto a dor que essa família deve estar sentindo por pura incompetência de quem deveria nos dar proteção e foi indiferente.
José Amilton Gomes Silva
Fortaleza-Ce
Senhores, mais uma vez, o Estado mostrou-se incompetente, pois a vítima já havia feito vários BOs e a Polícia não agiu rápido e terminou nesse fato trágico. Deveria haver diferença entre um BO de documentos perdidos e de ameaças, principalmente nesses casos de violência contra a mulher.
José Hélcio Simplício
Farias Brito-CE
Isso está acontecendo demais. Eles nem se intimidam com a lei Maria da Penha. Estão levando a pagode a Justiça do Brasil.
Conceição Holanda
Santa Quitéria-CE
Quer dizer que a família era quem estava fazendo as buscas e os encontrou? A Polícia não conseguiu encontrá-los? É isso mesmo? Isso é uma vergonha. A que ponto chegamos?
Vinícius de Sousa
Fortaleza-CE
Muito triste a notícia da morte desta jovem que ainda tinha muita vida pela frente com a família. Infelizmente, mesmo fazendo boletins, não se livrou deste fim tão trágico. Precisamos urgentemente rever nossas leis, pois a Lei Maria da Penha não está conseguindo reverter os casos de violência contra a mulher. Meu pesar pela sua morte e pela confiança que tinha em fazer os BOs supondo que estaria segura.
Marcos Vieira
Fortaleza-CE
Mas será possível uma coisa dessas? A mulher já tinha feito três boletins e nenhuma providência foi tomada contra ele. E agora? Como vai ficar? Cadê as autoridades que não se manifestam? Quando uma pessoa diz que está sendo ameaçada é para alguma atitude ser tomada, minha gente!
Inês Chaves
Fortaleza-CE