Conjunto não foi concluído e já sofre com roubos
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- 01-02-2011
01.02.2011 cidade
Seguranças particulares e guardas municipais se sentem acuados porque ficam no local desarmados
A paralisação há cerca de um ano não é o único problema do conjunto habitacional que a Prefeitura está construindo no Papicu, para beneficiar 488 famílias que moram no entorno da lagoa do bairro. Com a suspensão dos trabalhos, o espaço passou a ser alvo de furtos.
Telhas, cerâmicas, tijolos e mesmo o que não é possível subtrair, como cobogós de concreto, são retirados diariamente e sem a menor cerimônia. Como a obra não foi concluída, há acessos livres ao local, que não tem muro em toda sua extensão.
Em uma rua as casas da Favela do Pau Fininho encontram o conjunto pelo quintal e, em outra via, as portas e janelas dos apartamentos dão diretamente para a rua. Há segurança particular e da Guarda Municipal dia e noite no espaço, mas nenhum porta arma de fogo.
Conforme reza o Artigo Nº155 do Código Penal, o que está acontecendo no conjunto é furto qualificado, por se tratar de bem público, e prevê reclusão de dois a oito anos como penalidade. O projeto de requalificação e reassentamento da área de risco da Lagoa do Papicu está orçado em R$ 14.873.652,37 e começou em cinco de março de 2008. O prazo para ficar pronto era de 15 meses. Portanto, está atrasada um ano e sete meses.
Os homens que diariamente fazem a segurança do local admitem que a ação é limitada por diversos motivos: primeiro, eles não portam revólver ou arma parecida. “Uma vez a gente botou os caras para correr e eles voltaram armados. Aí a gente vai fazer o quê?”, queixa-se um guarda municipal que o jornal prefere não identificar para preservar sua segurança.
Já um dos dois seguranças que estavam no local ontem, por volta de meio-dia, conta que é comum, nos locais de acesso livre ao conjunto, grupos se reunirem no local para usar droga. “A gente chama à atenção, pede para eles saírem, mas é só. A orientação que nós temos é de não bater”, revela um outro segurança.
O problema acontece toda hora, mas à noite é pior porque não há qualquer iluminação. A entrada do conjunto é na Rua Francisco Matos, e é nesse ponto que, quando escurece, os seguranças se concentram. Eles contam que há temos até de fazer a ronda no local, por conta da escuridão. Isso motiva o aumento de roubos no horário.
Abandono
Não é difícil constatar o problema. Basta circular pelo local para perceber que muitos banheiros estão com azulejos quebrados ou retirados. Nas paredes, dá-se falta até das chaves gerais das torneiras. Mas há também vandalismo.
Esta situação causa insegurança entre os que fazem a segurança do prédio e famílias que residem na área. Eles reclamam atenção do serviço público para que assegure tranquilidade. “A gente vive com medo de que aconteça alguma coisa ruim”, diz a dona-de-casa Maria Deuzenite Silva, 55.
De acordo com os seguranças e guardas municipais, que pediram para não ser identificados, é comum os infratores utilizarem chaves de fenda para tentar extrair azulejos. Como não conseguem, contentam-se em quebrar. O mesmo ocorre com tubulações, partes da alvenaria.
Tênis, latas de bebida, garrafas de vidro também não são raras de ser vistas nos corredores e vias internas do conjunto. No alto, são várias as falhas no telhado ocasionadas por furtos.
Os seguranças contam que, na semana passada, várias pessoas tentaram invadir o local durante uma forte chuva, o que foi por eles impedidos.
Enquete
Muitas reclamações
“É muito errado roubarem o que um dia vai servir para eles ou para a família deles. Assim, nunca vão terminar o conjunto”
Elaine de Souza Neri
21 anos
Operadora de caixa
“Não sei por que pararam a construção. Enquanto isso, a água invade as casas do lado. É triste a situação de moradia”
Raimundo Barroso
62 anos
Vigia
DISPUTA JUDICIAL
Pendências estão para ser resolvidas, garante Habitafor
De acordo com o presidente da Fundação Habitacional de Fortaleza (Habitafor), Roberto Gomes, a pendência sobre as obras do condomínio está para ser resolvida. A solução, segundo ele, foi negociar com a proprietária do imóvel extrajudicialmente.
Isso porque os laudos da Justiça e da Prefeitura de Fortaleza sobre o valor do imóvel eram equivalentes e o avaliavam em R$ 70 mil. Mas a proprietária pedia R$ 365 mil.
“A Prefeitura entrou com todos os instrumentos possíveis até que, cansados de esperar, fizemos uma negociação extrajudicial no valor de R$ 160 mil”, explica Gomes, acrescentando que os R$ 90 mil complementares já foram depositados e protocolados na Justiça.
Agora, de acordo com o presidente da Habitafor, só falta o pagamento ser homologado. Feito isso, estabelece-se prazo de 15 dias para demolir os imóveis e, assim, a obra pode ser retomada.
Conselho Gestor
Sobre os furtos no local, Roberto Gomes afirma que se trata de área de incidência de problemas de segurança – “como todas as áreas de risco da cidade”, enfatiza. Para minimizar problemas do tipo, ele informa que a Fundação Habitacional de Fortaleza tem acompanhamento de assessoria comunitária, independente de a obra estar em execução.
Assim, o Conselho Gestor ajuda e contribui com segurança comunitária e informações. “É uma área de incidência de problemas de segurança muito grande, como todas as áreas de risco da cidade”, observa. As famílias residentes na área confirmam a informação de que o bairro enfrenta problemas de insegurança, como assaltos a mão armada e furtos.
A construtora mantém dois seguranças na obra, noite e dia. Há ainda quatro guardas municipais. A questão é que nenhum porta arma de fogo. “A Guarda Municipal não pode. E o contrato com segurança particular foi fechado em dezembro, portanto ainda não está liberado para eles ficarem armados”, justifica Gomes.
Desde que a obra parou foi estabelecido acompanhamento diário de segurança. A respeito das ameaças de invasão, em especial nesse período de chuvas, Roberto Gomes avisa que conta com apoio da comunidade que, na opinião dele, “sabe que se invadir é pior”.
MARTA BRUNO
REPÓRTER