Campanha do TJCE oficializa laços de paternidade, realiza sonhos e transforma vidas
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- 05-12-2024
Yasmim Rodrigues
Era uma quarta-feira à tarde, em um supermercado no bairro Parangaba, quando o telefone de Ovídio Pontes Soares, de 69 anos, tocou com a chamada de um número desconhecido. Do outro lado da linha estava Francisca Carolina Pinto dos Santos, de 40 anos, contando detalhes de um passado antigo, mas que seguia vivo na memória do aposentado. Um novo capítulo dessa história foi escrito nesta quinta-feira (05/12), com o auxílio do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), durante a 2ª edição da campanha “Pai, um presente para a vida toda”, que oficializou laços entre pai e filha.
“Eu perdi o contato com a mãe dela. Quando ela nasceu, eu não estava presente. Não nos conhecemos por anos. Era um sonho nosso e, o dia que ela me ligou, foi um dos mais felizes da minha vida”, emocionou-se o pai ao lembrar do primeiro contato com a filha. Para Francisca Carolina, a reconexão com suas raízes trouxe a sensação de completude. “A gente já tinha tentado fazer a certidão outra vez para colocar o nome dele. Eu queria muito isso. Com essa oportunidade, tudo deu certo, inclusive o DNA”, relatou.
A campanha, realizada por meio da Corregedoria-Geral de Justiça do Ceará (CGJCE), do Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (Nupemec) e do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) da Capital, em parceria com a Universidade de Fortaleza (Unifor), foi criada para facilitar o reconhecimento voluntário de paternidade. “É um serviço que tem grande relevância social. Estamos prestando apoio em demandas de família, retirando vários entraves que seriam necessários em outras áreas, o que influencia diretamente na vida das pessoas”, destacou a juíza Ana Carolina Montenegro, coordenadora do Cejusc Fortaleza.
PORTAS ABERTAS
O sorriso estampado no rosto não permitiu que Fred Henrique de Souza, de 40 anos, escondesse a alegria de ver concretizada uma vontade antiga. “Eu tinha até perdido as esperanças por conta da burocracia. Fiz a inscrição meio desacreditado por tantas portas fechadas que já tinha encontrado. É muito gratificante saber que a Justiça está colaborando para esse momento tão feliz”, afirmou o autônomo, cujas tatuagens já traduziam a dimensão do amor sentido por quem lhe deu a vida.
O pai, Urbano Olímpio de Oliveira, de 68 anos, descreveu o reconhecimento como uma conquista ímpar. “As pessoas aqui são muito boas. Quem não conhece isso aqui deveria vir. Se tiver que resolver algum problema familiar, sairá muito contente. Eu acredito que não tem lugar melhor para a pessoa ter um entendimento bom do que aqui”, elogiou.
“Meu nome agora é Fred de Souza Olímpio, filho de Urbano Olímpio de Oliveira. Filho também da Josy Pereira de Souza. Perfeito”, orgulhou-se o autônomo, já devidamente registrado.
RECOMEÇOS
O mutirão, que teve início na última segunda-feira e encerrou-se nesta quinta-feira, possibilitou mais de 40 reconhecimentos de paternidade, garantindo recomeços para as famílias beneficiadas. Viabilizou também exames de DNA, com apoio do Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), além de audiências envolvendo divórcios, guardas e pensões alimentícias. Todas as atividades foram realizadas no Bloco Z da Unifor.
A primeira edição do projeto ocorreu em outubro do ano passado, assegurando a inclusão do nome paterno na documentação de 49 pessoas. “É uma aproximação do Judiciário com a sociedade, oferecendo à população o direito de resgatar suas origens e de construir vínculos com o pai, e garantindo a esses pais o exercício de uma paternidade responsável”, ressaltou a juíza Ana Carolina Montenegro.