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Após 3 anos, adolescentes são liberados

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07.10.2010 Fortaleza
Dois dos três adolescentes que estavam cumprindo medida socioeducativa, em regime fechado, pelo envolvimento no assassinato do professor Arnaldo Belchior, em agosto de 2007, foram liberados. Desde agosto último, eles estão em regime de liberdade assistida. O terceiro já tem 18 anos e está respondendo por outro crime na Justiça
Três anos depois, dois dos três adolescentes envolvidos na morte do professor universitário Arnaldo Dias Belchior, no Dia dos Pais de 2007, na Varjota, foram liberados. Eles estavam cumprindo medida socioeducativa, em regime fechado, em centros educacionais. Desde agosto último, os dois estão em regime de liberdade assistida. Um na Capital e outro no Interior. O terceiro também não está mais interno. Conforme o juiz da 5ª Vara da Infância e da Juventude, Darival Bezerra Primo, ele cometeu um crime dentro do centro educacional e, como tinha mais de 18 anos, foi encaminhado para uma delegacia para responder na Justiça.
Na noite do dia 13 de agosto de 2007, o professor Arnaldo Belchior, 47, foi atingindo com um tiro no pescoço, na rua Manoel Jesuíno, na Varjota, quando esperava o vigia do prédio abrir o portão. Ele foi surpreendido pelos três jovens, em uma tentativa de assalto. Na época do assassinato, dois adolescentes tinham 16 anos. O outro, 14.
Segundo o juiz, os adolescentes saíram do regime fechado porque cumpriram três anos, tempo máximo de internação permitido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Em regime de liberdade assistida, conforme explicou Bezerra, os jovens podem voltar para casa, mas continuam sendo acompanhados por uma equipe multidisciplinar de cada município e outra do Juizado da Infância e da Juventude. Psicólogos, assistentes sociais e pedagogos vão supervisionar os adolescentes. De acordo com o ECA, inicialmente, a liberdade assistida é determinada por seis meses, podendo a qualquer momento ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida. E só pode se prolongar até, no máximo, o adolescente chegar aos 21 anos.
A professora Fátima Belchior, esposa de Arnaldo Belchior, ainda tenta afastar as lembranças daquela noite. ?É uma coisa que marcou profundamente a minha vida?, emocionou-se, ao conversar com O POVO. No entanto, ao saber da situação atual dos adolescentes envolvidos na morte do marido, a noite do dia 13 de agosto de 2007 veio à tona. ?Eu não sei como eles estão agora. Se vão ter revolta, se vão querer vingança, se vão estar em outra esquina esperando outro pai entrar… Eu teria de me conscientizar que eles seriam soltos, mas é difícil. Me dá agora um medo de perder um filho, um parente, um amigo?, desabafou.
Mesmo temerosa, afirmou não querer ?denegrir a imagem de uma comunidade? com o caso. Dois dos adolescentes moravam na comunidade do Trilho, no Papicu, bem próximo ao prédio onde a família vivia. O professor Belchior foi assassinado no portão do condomínio. O outro rapaz era da comunidade Verdes Mares, também no Papicu.
ENTENDA O CASO
> A tentativa de assalto que resultou na morte do professor Arnaldo Dias Belchior, 47, pai de dois meninos, ocorreu às 22 horas do dia 13 de agosto de 2007, Dia dos Pais.
> Três adolescentes se aproximaram do carro, quando o professor estacionou o veículo em frente ao prédio de três andares onde morava, no último quarteirão da rua Manoel Jesuíno, na Varjota.
> Ele vinha da catedral com a esposa. O casal tinha participado da celebração da novena de Nossa Senhora da Assunção. Arnaldo havia tocado a buzina e esperado que o vigia abrisse o portão de ferro. Nesse momento, três homens cercaram o carro.
>Um deles, armado, bateu na janela e anunciou o assalto. Arnaldo se inclinou para abaixar o vidro. No seu carro, o botão ficava perto da marcha e não na lateral da porta, como é mais comum. Ao estender o braço na direção do botão, levou um tiro no pescoço. Foi levado ao Instituto Dr. José Frota (IJF), mas não resistiu.
> Arnaldo era querido por todos na rua Manoel Jesuíno, onde morava. índico do prédio, ele já havia pedido mais policiamento para a área.
> Há 25 anos, Arnaldo coordenava o grupo de orações sábado à noite. Na Unifor, onde Arnaldo era professor, foi decretado luto de dois dias.
> Na época, o pai de um dos adolescentes acusados do crime denunciou o filho à Polícia. Ele foi levado para a delegacia e ajudou os policiais cedendo uma foto do filho, com quem não tinha um bom relacionamento. Segundo PMs, ele estava muito nervoso e chegou a chorar.
> Ainda em 2007, os três adolescentes passaram a cumprir a medida socioeducativa, em regime fechado, em centros educacionais. Segundo o ECA, as medidas variam de acordo com a gravidade do ato. Buscam orientar e apoiar o adolescente em conflito com a lei, com o objetivo de reintegrá-lo à vida familiar e comunitária.