Suassuna: “Todas as minhas obras são pedras, que vou juntando para construir o meu castelo”
………A metáfora do castelo significando fortaleza, resistência cultural, monumento erguido com luta e suor, pedra por pedra. Esta foi uma das alegorias utilizadas por Ariano Suassuna para explicar sua obra e seu compromisso com a cultura e o povo brasileiro.
Contando vários causos ocorridos em suas andanças Brasil afora, e fazendo críticas a tudo que diga respeito à descaracterização cultural do País, Suassuna arrancou aplausos e gargalhadas de um lotado auditório da Escola Superior da Magistratura do Ceará (Esmec), em sua aula-espetáculo intitulada “Raízes populares da cultura brasileira”, ocorrida na noite da última quarta-feira (14/08).
O escritor disse que, em sua obra e nas apresentações que faz pelo País inteiro, tem uma missão a desempenhar: “Defender o Brasil, seu povo e sua cultura”. Ariano chamou a atenção para a criatividade do povo brasileiro e a vastidão do território nacional onde, paradoxalmente, as pessoas estão tão próximas em sua riqueza cultural. “O mais interessante em nosso povo é essa unidade na diversidade”, resumiu.
Na aula espetáculo com Suassuna, muitos fãs do escritor tiraram fotos ao seu lado e lhe pediram que autografasse livros de sua autoria, para levarem como recordação daquele momento histórico.
PRESENÇAS
Prestigiaram o evento vários desembargadores e juízes; dirigentes da Associação Cearense de Magistrados (ACM); membros dos Tribunais de Conta; o jurista Paulo Bonavides; o ex-governador Gonzaga Mota; professores, alunos e funcionários da Esmec; além de servidores da Justiça estadual.
O presidente do Tribunal de Justiça do Ceará, desembargador Luiz Gerardo de Pontes Brígido, esteve representado pelo desembargador Carlos Alberto Mendes Forte.
Além de Suassuna, compuseram a mesa de honra o desembargador Haroldo Correia de Oliveira Máximo, diretor da Esmec, e o juiz federal José Vida da Silva Neto, que fez a apresentação do escritor.
O diretor da Escola da Magistratura fez o discurso de abertura da aula. “Ao professor Ariano Suassuna, ícone no que diz respeito à representação da cultura popular nordestina, destacado pensador do Brasil e um dos maiores escritores vivos, nossa gratidão e o reconhecimento por haver construído uma obra de alcance universal”, destacou o desembargador Haroldo Máximo.
O juiz José Vidal fez um resumo da trajetória cultural de Suassuna, discorrendo também sobre a riqueza de sua produção intelectual e seus personagens. “Em sua obra, temos um Deus frio, duro, que impõe um pesado fardo aos seres humanos. Apesar do homem não se livrar do pecado original, o seu drama acaba sensibilizando Deus. Dessa forma, em livros como Pedra do Reino e Auto da Compadecida, o homem também se diviniza e se salva. Vemos um Deus se harmonizando e se aproximando dos homens”, frisou o magistrado, acrescentando que “Ariano faz as vezes de Deus na criação de seus personagens: ambos amam as suas criaturas”.
VEJA A SEGUIR ALGUMAS FRASES DE SUASSUNA,
PROFERIDAS EM SUA AULA-ESPETÁCULO
* * * “Eu não tenho o hábito da leitura, tenho paixão por ela”. (Respondendo a um jornalista, interessado em saber se o escritor lia com frequência)
* * * “Para mim só há dois tipos de viagem de avião: as tediosas e as fatais”. (Explicando para uma aeromoça o seu temor e desconforto com as viagens aéreas)
* * * “Sou hoje um palhaço de circo frustrado”. (Falando da paixão pelo circo, para o qual não pode se dedicar como deveria, apesar de ter criado o Circo da Onça Malhada)
* * * “Bush era detestável. Já Obama tem muitos defeitos, mas pelo menos é negro”. (Condenando a decisão do ex-presidente norte americano de invadir o Iraque, acusando aquele país de possuir armas nucleares, o que não foi comprovado)
* * * “Teve um compositor que disse ‘meus herois morreram de overdose’, com grande orgulho. Isso é muito perigoso. O meu herói não sabia o que era overdose, e morreu crucificado entre dois ladrões”. (Criticando a composição de Cazuza e a apologia das drogas)
* * * “Os norte-americanos querem nos convencer que nacionalismo é coisa da Direita, mas eu não conheço uma nação mais nacionalista que os Estados Unidos”. (Ironizando o imperialismo ianque, que quer países submissos, que facilitem a abertura de suas fronteiras para os norte-americanos)
* * * “Chamar-me de D. Quixote é o maior elogio do mundo”. (Replicando um crítico seu, que o tachou de “D. Quixote arcaico em luta contra os moinhos de vento da globalização”)