Judiciário cearense promove ação para resgatar autoestima de vítimas de violência doméstica
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- 11-03-2025
Nas mãos de Lucélia estão alguns dos instrumentos necessários para um trabalho de resgate da autoestima. Sentada em frente à manicure está Luciana*. Em pouco tempo, os olhos das duas brilham e os dentes até ficam à mostra. Sorrisos de quem executou o serviço e de quem agora está com as unhas pintadas. Para alguns, pode parecer bobagem, mas não para a costureira que foi surpreendida com a ação nessa segunda-feira (10/03), quando procurou atendimento no 1º Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de Fortaleza.
“Às vezes a gente está se sentindo tão feia, tão sem jeito, até sem condições de mandar fazer uma unha. Ver assim é bom, né? A gente se sente mais acolhida, se sente melhor. A autoestima melhora muito, com certeza”, relatou a costureira, que é acompanhada pelo Judiciário estadual desde o início do ano, quando pediu uma medida protetiva para se proteger do ex-companheiro.
Ao contrário de Luciana, que ainda se sente ameaçada, a auxiliar administrativo Janier Souza de Sales procurou o Juizado para revogar a medida protetiva e soube da ação. “Eu ia só mesmo arquivar o caso, mas eu tive essa surpresa, né, que tem unhas, maquiagem, eu estava até precisando. Sou bem recebida aqui, desde a primeira vez, me deram muita atenção, até a parte da psicologia também que eu estava precisando e elas me deram total força”, afirmou.

A Lucélia Monteiro Marques, responsável pelo embelezamento das unhas, sabe bem o quanto o trabalho dela pode fazer a diferença na vida das mulheres e vibra por isso. Ela já sofreu violência doméstica e está entre as assistidas pela Casa da Mulher Brasileira, espaço que concentra toda a rede de proteção às vítimas, inclusive a unidade anexa ao 1º Juizado da Mulher.
“Eu achei muito legal terem me chamado para trabalhar, muito bacana mesmo. E elas se sentem tão bem fazendo as unhas, o bem-estar físico delas. Dá uma satisfação muito boa. Fico muito feliz”, comemorou Lucélia, manicure há nove anos.
A iniciativa faz parte das ações promovidas pelo Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) para comemorar o Mês da Mulher. Para a juíza Rosa Mendonça, titular do 1º Juizado da Mulher de Fortaleza, é de suma importância trabalhar o resgate da autoestima das vítimas.
“A mulher que está vivenciando uma situação de violência tem uma autoestima muito baixa, ela não se acha capaz de nada, se acha feia. A gente faz esse tipo de ação, maquiagem, cabelo, unha, porque isso realmente eleva a autoestima da mulher, faz ela se sentir melhor e com mais condições de enfrentar a luta, ela se empodera mais e, principalmente, quando o trabalho é feito por mulheres que já passaram a mesma situação que elas estão passando. Há uma troca de experiência, uma troca de informações, e aí a coisa surte mais efeito, a mulher se empodera muito mais porque viu que uma que passou pela situação que ela está passando e conseguiu sair, tanto que está trabalhando e está ajudando outras mulheres”, salientou a magistrada.
*nome fictício a pedido da entrevistada

