A luta pelo sonho da maternidade
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- 07-05-2024
Na primeira matéria da série de reportagem “Muitos jeitos de ser mãe”, produzida pela Assessoria de Comunicação do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), conheça as histórias de três servidoras que, mesmo diante de obstáculos, encontraram caminhos para exercer a maternidade
Por Josielle Falcão (estagiária de Jornalismo)
Para algumas mulheres, tornar-se mãe pode ser uma jornada repleta de desafios, que exige coragem e persistência. Para quem há muito tempo anseia por um filho, cada dia é uma batalha de esperança contra a incerteza, cada momento de espera é uma prova da dedicação inabalável ao sonho de segurar um pequeno milagre nos braços.
Para Micheline Carvalho, oficiala de Justiça da Comarca de Pacatuba, o sonho de ser mãe aflorou já no dia de seu casamento, em 2002. Um desejo tão profundo que moldou os anos que se seguiram. Entretanto, o destino parecia ter outros planos. Três meses após o casamento, a revelação dolorosa de que seu marido não podia mais ter filhos. Ele havia sido diagnosticado com varicocele, uma doença que afeta o fluxo sanguíneo e pode causar infertilidade. A notícia foi como um golpe.
O casal se mudou para Belém do Pará, onde Micheline concluiu a faculdade de Direito e, longe da família, seguiu determinada a lutar pelo sonho da maternidade. “Tentamos reverter a varicocele, buscamos qualquer esperança de que o futuro pudesse trazer uma mudança. Mas as tentativas falharam, e o custo da fertilização in vitro era um obstáculo muito difícil de superar naquele momento. Mesmo assim, não desistimos”, relatou Micheline.
Em 2008, após voltar para Fortaleza, ela viu que o TJCE estava abrindo concurso e decidiu começar a estudar. Naquele mesmo ano, conseguiu a aprovação no certame e agora aguardava sua posse. Mesmo enquanto estudava, ela não deixou de lado seu sonho e, em 2009, após uma cirurgia, o casal iniciou o processo de fertilização in vitro. E, finalmente, em 2010, dois grandes momentos se entrelaçam em sua vida.
“A posse no concurso público trouxe um novo capítulo profissional, mas foi a realização do sonho da maternidade que iluminou meu coração. Após anos de luta, o tratamento de fertilização in vitro trouxe a tão esperada notícia de que eu estava grávida. Foi um ano marcado por conquistas pessoais e profissionais. Encontrei na plenitude da maternidade um presente tão aguardado que tornou muito valioso cada desafio enfrentado ao longo do caminho. E assim, eu me tornei mãe, não apenas de uma filha, mas de um sonho que floresceu contra todas as adversidades”, contou a oficiala.
Ana Luiza nasceu em junho de 2010 e se tornou a maior companheira de Micheline. “Desde o momento em que segurei a Aninha nos meus braços pela primeira vez, cada fibra do meu ser se encheu de uma alegria indescritível. A cada olhar que troco com a minha filha relembro a nossa jornada até agora, repleta de aventuras compartilhadas, risos e abraços. Sinto uma mistura de orgulho e gratidão ao ver o quão rápido ela cresce, como se o tempo estivesse correndo para capturar cada momento precioso. Percebo que ser mãe é uma jornada de aprendizado constante, cheia de desafios e recompensas, mas cada obstáculo vale a pena quando vejo o mundo através dos olhos dela. A cada noite, quando a cubro com um beijo de boa noite e ela fecha os olhos em paz, sinto gratidão por ter o privilégio de fazer parte da vida dela. Ela é a minha benção de Deus”, finalizou orgulhosa e feliz.
Ana Carolina de Palhano, jornalista lotada na Assessoria de Comunicação Social do TJCE, cresceu ouvindo da avó e da mãe que precisava ser independente. Por isso, ao contrário de muitas de suas amigas, não cultivou desde cedo o sonho da maternidade.
Foi só aos 32 anos, após dois diplomas de graduação, que Carolina sentiu o “reloginho” da maternidade lhe chamar atenção. “Vivi bastante, aproveitei a minha liberdade, já com 24 anos conheci meu marido e casei, fiz duas faculdades e, aos 32 anos, eu pensei ‘É, pode ser que esteja chegando a hora de ser mãe’”, lembrou a servidora.
Ela decidiu parar o método contraceptivo e após três meses estava grávida, de gêmeos, sem nenhum caso na família e junto com a melhor amiga. “’Que sonho’, eu pensei. Mas aí foi o momento de maior resiliência na minha vida. Logo eu, que sempre fiz tudo que quis, que sempre tive o poder de decisão da minha vida nas mãos desde muito cedo, porque comecei a trabalhar com 16 anos, presenciei ali a certeza de que nós não mandamos no nosso corpo. De que, na verdade, não mandamos em nada. Perdi a gestação, naquele momento sem motivo aparente.”
Foi quando Carolina passou a descobrir problemas relacionados à saúde da mulher, até então nunca vistos pelo ginecologista que a acompanhava. “As pessoas queriam normalizar, ‘é normal, daqui a pouco você engravida de novo. Isso é besteira’. Foram dois anos e meio de muitas cirurgias, hormônios, atendimentos médicos infelizes, falta de empatia, insegurança, noites mal dormidas. Até que consegui engravidar novamente, em dezembro do ano passado”.
A servidora, hoje com seis meses, aprecia a doce espera com uma gravidez tranquila e a bebê saudável. Suas inseguranças agora são outras: neste momento, surge a preocupação de saber se conseguirá dar conta como mãe, mulher e profissional. Ela busca lidar com essas expectativas de forma realista, evitando o ideal de perfeição que sobrecarrega e gera sentimentos de culpa e frustração em tantas mães.
“Nós, mulheres, estamos sempre nos cobrando ou sendo cobradas para ser a melhor mãe, a melhor profissional, a melhor mulher. Temos que estar sempre dispostas, sorridentes e bonitas. Mas não devemos viver à base disto. A maternidade precisa ser um momento único, de muito amor e felicidade, entre a mãe e a criança, entre a mulher e o marido, e entre a mulher e sua profissão”, considera.
A servidora da 3ª Vara do Júri, Liana da Mota Ponte, sempre sonhou em casar e ter filhos. Devido a um problema de saúde, ela precisou passar por duas cirurgias: uma para retirada da tireoide e a outra para retirada do útero. Por isso, Liana não poderia ser mãe de forma natural.
Mas o sonho da maternidade não morreu, muito pelo contrário, só aumentou. “Eu disse ‘eu vou ser mãe e se eu não posso gerar um filho biológico, eu vou gestar um filho no meu coração’.” E assim, poucos meses depois da segunda cirurgia, ela foi até o setor de Cadastro de Adoção e deu entrada no pedido de habilitação. Após a visita da assistente social em sua casa e finalizados todos os trâmites, Liana se viu no local que tanto queria: a fila de adoção.
Ela conta que, desde então, com ajuda dos profissionais do setor e com os cursos e palestras de preparação, conseguiu amadurecer seus conceitos e definir o perfil que melhor se encaixa à sua realidade. “A gente entra nessa nova expectativa com uma noção diferente do que é a realidade. Mas os profissionais da Vara da Infância têm uma conversa muito franca e realista com a gente sobre o que é, sobre as dificuldades que a gente vai enfrentar, sobre o seu perfil, se você realmente tem condição de assumir aquilo para o qual você está se propondo”.
Enquanto aguarda, ela sonha e faz planos. “Eu tô esperando, tô muito tranquila, e eu falo muito pras pessoas ‘olha só, quando minha filha chegar, vocês vão fazer isso, quando minha filha chegar, vai ser assim, quando minha filha chegar vocês vão ter que passar seis meses sem mim no trabalho, porque eu vou entrar de licença maternidade, então eu falo muito isso pros meus colegas de trabalho, pro pessoal da minha família, quando minha filha chegar vocês vão ter que me ajudar nisso’. Eu já tô gestando, sinceramente, eu tô gestando com o coração, e eu tô muito feliz porque eu tenho certeza de que esse ano vai sair”, finalizou esperançosa.
CADASTRO DE ADOÇÃO
Para quem deseja adotar uma criança institucionalizada, deve primeiro realizar o procedimento de habilitação. Caso resida em Fortaleza, os documentos para ingressar com o procedimento, podem ser encontrados AQUI. Residentes de outras Cidades do Estado do Ceará devem buscar o contato da Vara responsável, disponível AQUI.
Para entender melhor o passo a passo dos trâmites para adoção, clique AQUI.
PROGRAMA DE APADRINHAMENTO
O Programa, regulamentado pela Resolução nº 13/2015 do TJCE, tem a finalidade de aproximar a sociedade de crianças e adolescentes institucionalizados em unidades de acolhimento, uma vez que os padrinhos têm a chance de prestar auxílio aos acolhidos e garantir um desenvolvimento psicossocial saudável.
Apadrinhar é um ato de amor e solidariedade para com as crianças e adolescentes que carecem de um núcleo familiar capaz de prestar um desenvolvimento saudável e com oportunidades. Para conhecer melhor os tipos de apadrinhamento, leia AQUI.
Para mais informações, entre em contato através do e-mail apadrinhamento@tjce.jus.br ou pelo WhatsApp no número (85) 3278-7684.
SAIBA MAIS
A série de reportagem “Muitos jeitos de ser mãe” será publicada ao longo do mês de maio, em homenagem ao Dia das Mães, comemorado no próximo domingo, dia 12. Por meio de relatos de magistradas e servidoras da Justiça, traz um olhar para a maternidade real, em sua pluralidade de vivências e desafios. Serão destacados também os serviços oferecidos pelo TJCE que beneficiam as mães, sejam elas profissionais ou usuárias da Justiça.
Nas próximas matérias, vamos abordar os desafios do puerpério e dos primeiros cuidados com os bebês, a experiência de acompanhar o crescimento e a autonomia dos filhos em diferentes fases da vida, as lutas das mães por uma sociedade mais inclusiva e livre de preconceitos, além da importância de cuidar, também, de quem cuida. Continue acompanhando nos canais de comunicação oficiais do TJCE.