Programação da Semana da Paz em Casa termina com palestra para homens autores de violência doméstica
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- 08-03-2024
Com o objetivo de conscientizar homens que cometeram violência doméstica para evitar o sofrimento de mais mulheres, o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) promoveu, nesta sexta-feira (08/03), palestra educativa. A iniciativa, realizada por meio da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Poder Judiciário, marcou o encerramento das atividades da 26ª Semana Nacional da Justiça pela Paz em Casa
“Sabemos que a violência de gênero é um problema grave e persistente, que causa danos profundos às vítimas e à sociedade como um todo. No entanto, é fundamental reconhecer que os agressores também são parte dessa equação e que é necessário abordar as causas subjacentes desse comportamento violento”, destacou a desembargadora Marlúcia de Araújo Bezerra, que está à frente da Coordenadoria da Mulher.
A magistrada salientou a importância dos grupos reflexivos promovidos pela equipe do Núcleo de Atendimento ao Homem Autor de Violência (Nuah). “Um espaço seguro e estruturado para que os agressores possam refletir sobre suas atitudes, crenças e comportamentos, bem como para que possam aprender estratégias alternativas de resolução de conflitos e de relacionamento saudável. Ao trabalhar com os homens autores de violência, podemos não apenas ajudar a prevenir novos casos de agressão, mas também promover uma mudança cultural mais ampla que desafia as normas de gênero prejudiciais e promove relações mais igualitárias e respeitosas entre homens e mulheres”.
CICLO DE DIÁLOGO
“Sensibilizar homens sobre a trajetória e lutas das mulheres” foi o tema do ciclo de diálogo conduzido pela juíza Rosa Mendonça, titular do 1º Juizado da Mulher de Fortaleza. Além dos homens atendidos pelo Nuah, participaram do encontro servidores e servidoras do Judiciário, com como a juíza coordenadora do Núcleo, Danielle Arruda.
A titular do Juizado da Mulher apresentou um panorama histórico com caso de discriminação contra a mulher, como a proibição de votar e os feminicídios cometidos em nome da “legítima defesa da honra”. A magistrada comentou sobre limitações e avanços na legislação, alcançadas graças ao trabalho de mulheres que buscavam uma sociedade mais igualitária.
“As mulheres enfrentam dificuldades até mesmo nos espaços públicos. O Supremo Tribunal Federal, por exemplo, só veio a ser comandado por uma mulher em 2006, com a ministra Ellen Gracie. Depois vieram a Carmem Lúcia e a Rosa Weber. Até 2006, não existia banheiro feminino no STF, porque era um espaço eminentemente masculino, não era para as mulheres. Então, podemos ver que essa é uma história de muita luta”, salientou a juíza Rosa Mendonça.
A juíza Danielle Arruda enalteceu o trabalho realizado pelos integrantes e parceiros do Nuah, destacando a dedicação de todos: “É um grupo de atendimento que opera em colaboração com a Vara de Penas Alternativas, onde atuo como titular, oferecendo suporte socioeducativo e psicossocial ao homem autor de violência doméstica e familiar. Podemos ver a mudança de postura e a conscientização de muitos homens, o que é de extrema importância”.
PAZ EM CASA
Também nesta sexta-feira, a juíza Teresa Germana Lopes de Azevedo, titular do 2º Juizado da Mulher de Fortaleza, e a equipe multidisciplinar da unidade promoveram palestra na Escola Antônio Dias Macedo para conversar com os alunos sobre os tipos de violência e a rede de apoio oferecida pelo Poder Judiciário. Em Maracanaú, o Juizado da Mulher ofereceu atendimentos de saúde para elevar a autoestima feminina e incentivar o autocuidado.
Durante toda a semana, o TJCE realizou uma série de atividades para fortalecer iniciativas de combate à violência doméstica e à cultura do machismo. As ações ocorreram paralelamente ao julgamento de processos envolvendo a Lei Maria da Penha e feminicídios, que são os homicídios motivados pela questão de gênero. “Ao priorizar a tramitação dos casos de violência contra a mulher, promovemos o aumento da confiança no sistema de Justiça, garantindo à sociedade resposta judicial célere e eficaz sobre estes crimes e encorajando as vítimas a buscar ajuda”, esclareceu a desembargadora Marlúcia Bezerra.
Ao final do evento, a coordenadora ainda leu poema do servidor Clávio Nunes em homenagem às mulheres.
SAIBA MAIS
Desde 2015, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) promove a Semana da Paz em Casa em parceria com os tribunais estaduais de todo o Brasil. O evento possui três edições anuais, sendo a primeira realizada em março, em alusão ao mês das mulheres; a segunda em agosto, em homenagem ao aniversário de sanção da Lei Maria da Penha; e a terceira em novembro, fazendo referência ao Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra a Mulher.
POEMA “SE NÃO FOSSE A MULHER”
Mulher, um ser tão maravilhoso que
Se fosse um gás seria o oxigênio
Se fosse uma estação seria a primavera
Se fosse um ponto cardeal seria o Norte
Se fosse uma divindade seria Deus
Se fosse uma paisagem seria as montanhas
Se fosse as águas seria o oceano.
Se fosse um gesto seria o abraço
Se fosse um sentimento seria o amor
Se fosse um substantivo seria a verdade
Se fosse um acento seria o agudo
Se fosse um verbo seria o amar
Se fosse um pronome seria tudo
Se fosse um astro seria o Sol
Se fosse um satélite seria a Lua
Se fosse a natureza seria infinita
E se não fosse Ela não haveria vida
Clávio Nunes