Iniciativa inédita do TJCE leva estudantes cegos para conhecerem funcionamento da Justiça no Fórum Clóvis Beviláqua
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- 12-04-2023
Em uma ação para promover a inclusão e acessibilidade de pessoas com deficiência visual no Judiciário cearense, 32 estudantes do Instituto Hélio Góes, da Sociedade de Assistência aos Cegos, conheceram o Fórum Clóvis Beviláqua (FCB) e tiveram a oportunidade de acompanhar um Júri Popular nesta quarta-feira (12/04). A iniciativa, intitulada “Justiça de Olhos Abertos”, também contou com a entrega de exemplares das cartilhas com informações relevantes sobre o papel, as funções e o trabalho realizados pelo Judiciário estadual. As cartilhas foram impressas em Braille, para alunos cegos; em formato ampliado para estudantes com baixa visão e também no modelo tradicional.
Um dos objetivos do projeto é despertar nos alunos o interesse e a vocação para seguirem carreira dentro do universo jurídico, seja como juízes, promotores, advogados, ou em outros cargos. O presidente do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), desembargador Abelardo Benevides Moraes, e a diretora do FCB, juíza Solange Menezes Holanda, receberam a turma no Espaço de Convivência do Servidor. O magistrado comemorou a influência que visita pode ter no futuro dos jovens.
“Alguns deles demonstraram interesse pelas carreiras jurídicas. Quem sabe dessa turma não sai um novo juiz, promotor ou advogado? Vamos incentivar esses jovens a pensar em um futuro melhor, em uma boa profissão. Nós podemos, como julgadores, administradores e servidores públicos, atuar neste sentido”, enfatizou.
Essa vontade de trabalhar no sistema de Justiça já existia em alguns dos alunos antes mesmo da visita. Foi a experiência vivida pela Karen Hellen da Silva Nascimento, de 14 anos. Com o desejo de exercer a Advocacia, a garota realizou o sonho de ver de perto o trabalho da Justiça. “Como quero ser advogada, imaginava o dia em que iria conhecer o Fórum. Eu senti uma emoção grande ao entrar aqui. É muito interessante saber cada detalhe”, disse emocionada a jovem com baixa visão.
Nem todos os estudantes têm tanta certeza sobre o futuro e, para alguns, a tarde no ‘Clóvis Beviláqua’ serviu para ajudar na tomada de decisão. Foi o caso do jovem Pedro Sales Oliveira, de 13 anos. “Tive uma experiência única e muito boa. É importante conhecer e quem sabe aflorar um interesse na área. Depois da visita, passei a cogitar ainda mais essa possibilidade”, explicou.
AGRADECIMENTO
Os jovens acompanharam a sessão do júri no Fórum. O juiz Antônio Edilberto Oliveira Lima, da 1ª Vara do Júri de Fortaleza, recebeu os alunos, professores e coordenadores antes do início da sessão, fazendo uma autodescrição, apresentando os participantes e o formato utilizado para julgamento. O exemplo foi seguido pelo promotor de Justiça Eberth Gregório Siqueira e o defensor público Luis Átila de Holanda Bezerra.
O coordenador de projetos da Sociedade de Assistência aos Cegos, professor Paulo Roberto, enalteceu o detalhamento das apresentações e elogiou a inclusão promovida pelo Tribunal de Justiça. “Hoje foi uma tarde muito feliz para nós. Observamos o juiz, o promotor e o defensor com a sensibilidade de fazerem uma autodescrição de si mesmos e a audiodescrição de todo o ambiente. Isso é muito importante para nós. Esperamos que a sociedade compreenda que na presença de pessoas cegas esse processo seja seguido. As instruções foram muito pedagógicas. Nós estamos muito felizes e só podemos agradecer ao TJCE por ser pioneiro nesta parceria luminosa conosco”, destacou.
OLHOS ABERTOS
Em novembro do ano passado, a presidente do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) à época, desembargadora Maria Nailde Pinheiro Nogueira, e a presidente da Sociedade de Assistência aos Cegos (SAC), Maria Lizélia Sá e Almeida Soares, assinaram convênio para a execução do projeto “Justiça de Olhos Abertos”. Idealizado pela Assessoria de Comunicação do TJCE, a iniciativa contempla o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 16, definido na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), que trata sobre ‘Paz, Justiça e Instituições Eficazes’, quanto à promoção do acesso à Justiça para todos.
Em dezembro, o TJCE confeccionou e distribuiu 200 cartilhas em Braille para estudantes cegos ou com baixa visão vinculados à Sociedade de Assistência aos Cegos. A iniciativa beneficia um total de 197 estudantes cegos, sendo 24 do Infantil ao Fundamental I e II; 123 alunos cegos reabilitados; e 32 com baixa visão do Infantil ao Fundamental I e II.