O Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) e a Assembleia Legislativa do Estado lançaram, nesta terça-feira (11/04), no Fórum Clóvis Beviláqua, a quarta edição do projeto “Bem-Me-Quero”. Desta vez, 25 egressas do Sistema Prisional e familiares de egressos do sexo feminino vão participar da ação, que tem o objetivo de desenvolver a inteligência emocional e preparar as mulheres para o retorno à vida em sociedade.

“O sofrimento delas é muito grande no momento da prisão. Elas se preocupam com tudo o que deixaram, sentem o abandono de família. É uma carga de dor enorme. Quando retornam, geralmente os companheiros já não estão mais à espera, muitas vezes as próprias mães não aceitam de volta, como percebemos na prática. Então temos buscado mecanismos para que essas mulheres sejam reinseridas socialmente”, explicou a juíza Luciana Teixeira de Souza, titular da 2ª Vara de Execuções Penais de Fortaleza e coordenadora do Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário (GMF) do Tribunal.

“Esse projeto iniciou em 2019, com o acordo de cooperação com o Tribunal de Justiça, justamente com o objetivo de levar autonomia, desenvolvendo um novo projeto de vida para essas mulheres que muitas vezes sofrem com o desamparo e com a falta de oportunidade. Então, o Movimento Mulheres do Legislativo Cearense traz esse projeto pra gente trabalhar tudo isso com essas mulheres egressas”, acrescentou a primeira-dama da Assembleia, Cristiane Leitão.

Ao todo, serão realizados 10 encontros na Seção de Capacitação do Fórum Clóvis Beviláqua, às terças-feiras, a partir de 18 de abril até o final do mês de junho, totalizando 20h/a. “É um local que elas já frequentam, se sentem mais tranquilas, então houve essa sensibilidade de aceitar o desafio e trazer o curso pra cá”, disse a juíza. Ainda conforme a magistrada, outra turma deve ser formada no segundo semestre deste ano.

A master coach Viviane Vale está à frente do curso e é responsável por ensinar técnicas que proporcionam o fortalecimento da autoestima. “Um questionário é aplicado antes e depois e a gente tem um excelente resultado tanto nas percepções sobre o valor pessoal, como no aumento da autorresponsabilidade, como na diminuição da intolerância”, destaca.

O “Bem-Me-Quero” teve início em 2019 e já promoveu três edições voltadas às egressas dos regimes aberto, semiaberto e livramento condicional, além de mulheres vítimas de violência assistidas pelo Poder Judiciário estadual, com 30 participantes.

EVOLUINDO, SEMPRE
Valdirene Moura Teixeira é uma delas. Ao contar sobre a experiência, relembrou a primeira vez que entrou no Fórum, “em 2015, algemada” para a sessão de julgamento. Depois de cumprir pena e participar de várias iniciativas voltadas à ressocialização promovidas pelo Poder Judiciário, ela conquistou uma vaga de trabalho na Seção de Arquivo e se sente outra mulher, especialmente após ter participado do “Bem-Me-Quero”.

“Cada dia que passa é um crescimento, um aprendizado. Eu me supero com cada fala minha, com cada participação em projetos, com cada pessoa que eu conquisto para trazer pra o lado bom da vida, que é esse lado que nós estamos vivendo agora. É só gratidão”.

Sabrina dos Santos está ansiosa para iniciar o curso. “Estou no semiaberto, com monitoramento, mas, para a glória do Senhor, estou trabalhando na Defensoria, como auxiliar de serviços gerais, estou estudando e agora vou fazer esse curso, quero passar por essa experiência pra me conhecer mais”.

UM NOVO TEMPO
Desenvolvido pelo Tribunal de Justiça do Ceará, por meio das Varas de Execução Penal de Fortaleza, o Programa Um Novo Tempo reúne vários projetos que oferecem capacitação, encaminhamento ao mercado de trabalho, estudo formal, cultura, acolhimento e vivências restaurativas. A finalidade é promover a ressocialização de apenados e egressos do sistema prisional, contribuindo para diminuir os índices de reincidência criminal. À frente do programa estão os juízes Raynes Viana de Vasconcelos, Luciana Teixeira de Souza, Cézar Belmino Barbosa Evangelista Junior e Fernando Antônio Pacheco Carvalho Filho, que atuam na Execução Penal. A desembargadora Maria Ilna Lima de Castro é a supervisora do Comitê Gestor do Programa Um Novo Tempo.