Conteúdo da Notícia

Apoio para as mães de coração

Ouvir: Apoio para as mães de coração

25.05.2010 Fortaleza
Ana Ignez e João Batista realizaram o sonho de ser pais, adotando a menina Maria Clara. Ana percebeu que falta apoio psicológico a quem desejam adotar e resolveu ajudar. Com o grupo de Mães de Coração, ela auxilia outras mulheres, oferecendo apoio e orientação
Lucinthya Gomes – lucinthya@opovo.com.br
Depois de muitos anos casados, a psicóloga Ana Ignez Belém Lima Nunes, 42, e o professor universitário João Batista Carvalho, 39, não conseguiam ter filhos. “Durante muito tempo tentei engravidar e não deu certo. Não quis passar por todo o estresse do tratamento. A adoção foi uma decisão pensada, conversada, sentida por nós dois“, explica Ignez, que realizou o sonho de ser mãe adotando a menina Maria Clara, hoje com 4 anos.
“Tive muitos medos. Não sabia se a criança iria me reconhecer como mãe, se Maria Clara seria alvo de preconceito. Mas é normal, porque a mãe biológica também tem medos“, recorda. Com tantas inquietações, ela percebeu que faltava suporte psicológico às famílias que adotam. Por ter adotado e ser psicóloga, muita gente começou a lhe procurar, buscando trocar experiências.
Foi quando Ana Ignez decidiu se unir a um grupo de mulheres para oferecer ajuda, como psicóloga e como mãe, no sentido de tranquilizar outras a tomarem uma decisão. Assim, foi criado o grupo de Mães de Coração, que se reúne periodicamente. “Várias pessoas me viram falar com naturalidade sobre adoção. E existia aquela cultura do segredo, de não falar sobre o assunto. E não preciso fazer apologia nem levantar uma placa, mas é preciso desmistificar muita coisa“, argumenta.
A ideia da adoção vem cercada de medos, preconceitos e mitos. Ana Ignez cita pessoas que ainda pensam em não contar que a criança é adotiva, acham que meninas são mais fáceis de cuidar do que meninos. Há também quem pense que adotar é um ato de caridade. “Não é. A Maria Clara é uma bênção na vida da gente porque a gente precisava muito dela. É uma via de mão dupla“, reforça.
Encontro
A psicóloga comenta também o receio de muitas pessoas que têm medo de adotar por acreditarem que a herança biológica vai predominar. “Claro que temos herança biológica, não negamos isso. Mas somos frutos da interação do biológico com o social, que também influencia“, desmistifica. Por conta do Dia Internacional da Adoção, celebrado hoje, o grupo de Mães de Coração realizará um encontro amanhã com mães que já adotaram e outras que estão querendo adotar. “A ideia é trocar experiências“, explica.
Um dos principais objetivos do grupo é evitar a “adoção à brasileira“. Ocorre quando a mãe adotiva recebe uma criança da mãe biológica, que por algum motivo não pode ficar com a criança, e a mãe adotiva vai ao cartório e a registra como se fosse sua filha, o que é ilegal.
Também psicóloga, Fernanda Freitas, 28, participa do projeto. Mas sua vivência é de quem está na outra ponta, como filha adotiva. “As pessoas acreditam que uma pessoa adotada não pode superar o abandono. Mas no mesmo nível em que fui abandonada, eu fui acolhida. E o mais importante é que fui acolhida. Para mim, isso basta“, defende. Fernanda lembra que, mesmo no caso de filhos biológicos, toda criança precisa ser adotada, as famílias precisam estar dispostas a amar.
SERVIÇO
Encontro de Mães de Coração.
Amanhã, dia 26 de maio, às 18h30min.
Local: Avenida Visconde do Rio Branco, 2722, no bairro de Fátima, entre Soriano Albuquerque e Antônio Sales. Aberto ao público.
Telefone: 3221 1455 ou 9956 9888 e contato pelo site www.babayaga.com.br
E-MAIS
>O grupo de Mães de Coração é uma extensão do projeto “Uma menina, um vestido e um coração“, mantido pela psicóloga Ignez Nunes, voltado para crianças abrigadas. O objetivo é ajudar na formação da menina abrigada, para além da escola, e também fazer doações, ajudando nas necessidades do abrigo.
>O local dos encontros é a loja Babayaga, que vende roupas femininas e reverte parte do que é arrecadado em doações para o abrigo Madre Paulina. No local também são realizados cursos voltados para as mulheres.
> O objetivo do grupo de Mães de Coração é montar um fórum permanente de discussão sobre a adoção.
RESUMO DA SÉRIE
> O POVO iniciou ontem uma série de matérias em alusão ao Dia Internacional da Adoção, comemorado hoje, 25 de maio. Ontem, foi publicada matéria sobre adoção internacional, que deve se realizar apenas em casos excepcionais, mas os estrangeiros dão exemplo e adotam crianças mais velhas e grupos de irmãos.