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O Bruce me levou de volta a Deus

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25.08.2010 Fortaleza
Tempo passa devagar para quem sente a dor da perda de um filho. As palavras de Francisco das Chagas, pai de Bruce Cristian, tenta explicar o tamanho do dano na família. Há um mês, o adolescente de 14 anos foi assassinado por um policial do Ronda do Quarteirão
Angélica Feitosa –
Aos tropeços, a família de Bruce Cristian tenta retomar a rotina. Em meio ao luto, os irmãos voltaram à escola. A mãe, Aglaís, regressou aos trabalhos com a costura na fábrica de roupas. O pai, Francisco das Chagas, consertou o primeiro ar-condicionado na terça da semana passada. Tentam, mas têm consciência de que será tarefa difícil voltar ao cotidiano sem a presença do garoto, assassinado no dia 25 do mês passado, por um policial do Ronda do Quarteirão.
Bruce Cristian ensinou aos pais e irmãos a voltar a frequentar a igreja evangélica. Instruiu também a família sobre o valor da vida e dos seus pequenos acontecimentos. Para o pai do garoto, Francisco das Chagas de Oliveira Sousa, 37, essas duas lições são as únicas coisas apropriadas que a morte do adolescente trouxe à família. Vistas na dor.
?Amanhã (hoje) vai ser uma data que nos causa muita tristeza, achamos melhor não fazer nada?, descreve ele, que antes do assassinato do garoto estava afastado da Igreja. ?O Bruce me levou de volta a Deus?, se consola.
Um mês não foi suficiente para tolher a revolta da família. E esse sentimento cresce à medida que o tempo passa e os parentes não têm notícias de mais nada acontecendo judicialmente. Eles sabem que a Justiça é lenta, mas tem ânsia de vê-la realizada. A família foi procurada por alguns políticos que queriam usar o assassinato de Bruce como bandeira de campanha. Francisco foi enfático ao negar a ajuda. ?Deixei claro não aceitava ajuda de quem só queria se promover ao nos procurar na eleição. As pessoas que me procuraram são humildes, pessoas do nosso meio. Têm caráter?, pontua.
Vez por outra, Francisco sente a presença de Bruce. Não sabe explicar o motivo, mas entende que o filho o protege. ?Só nós pais sabemos o quanto é difícil. A todo momento, nos lembramos dele. Evito sempre passar ali, onde aconteceu (avenidas Desembargador Moreira com Padre Valdevino). Desvio o caminho, mas não tem jeito. A cena não sai da minha cabeça?.
A partida do adolescente trouxe medo à família. Agora, Francisco das Chagas se sente muito mais inseguro. Principalmente em relação aos filhos. ?A gente já tinha medo de acontecer alguma coisa com eles, não permitia ir para longe de casa. A ironia do destino é que o assassino veio justamente de quem deveria nos proteger. A gente fica se perguntando: que mundo é esse? O que a gente pode fazer para não acontecer??, questiona, de voz trêmula, para em seguida, continuar: ?A gente acorda de madrugada, na esperança de ter sido um pesadelo. Na medida que a gente desperta, o sonho ruim vira realidade. E a gente vê que não há nada que a gente faça para trazer o Bruce de volta?.