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Gestão da escassez – EDITORIAL

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19.01.2011 opinião
Os primeiros movimentos registrados no setor da segurança pública demonstram haver sintonia entre os problemas visíveis nesse segmento sensível da administração e as ordens emanadas de seus novos gestores. No balanço anual de sua gestão passada, o próprio governador do Estado reconheceu não haver alcançado, como pretendia, os resultados esperados com o Ronda do Quarteirão.
O desempenho da pasta da segurança não pode ser avaliado isoladamente, pois seus objetivos estão entrelaçados com os do Sistema Penitenciário, a cargo da Secretaria da Justiça e Cidadania; da Vara das Execuções Penais, do Poder Judiciário; do Ministério Público e da Defensoria Pública. Embora os problemas sejam comuns a esse conjunto de órgãos públicos, sua execução se faz isoladamente.
De todo modo, começam a repercutir as primeiras providências adotadas no âmbito da Secretaria de Segurança Pública, tais como a reativação dos serviços de inteligência dos batalhões policiais. Hoje, particularmente, a inteligência policial resulta numa tarefa prioritária para facilitar a operação policial, mesmo nas ações ostensivas. Sem informação, o aparelho policial atua de maneira defensiva, chegando aos fatos depois de sua ocorrência. A inteligência policial, quando bem empregada, lhe faculta uma atuação proativa.
A segunda providência, por demais oportuna, diz respeito à ampliação do contingente do Grupo Ronda de Ação Intensiva e Ostensiva (Raio), inicialmente para atender à demanda da região metropolitana e, depois, às demais regiões do Estado. O Raio é um grupo modelar de patrulhamento, utilizado em situações de risco para equacionar os problemas de áreas dominadas pelos marginais.
Este tipo de policiamento, nos últimos meses, deu sobradas demonstrações de eficácia operacional, apresentando o saldo de 200 armas de fogo apreendidas em 2010. Sua rápida mobilidade e a pronta intervenção em áreas dominadas pelo crime, sem abrir espaço para seu público-alvo, tem revelado ser esse policiamento adequado para inibir a desenvoltura como se comportam os grupos marginais.
A Região Metropolitana de Fortaleza reflete, em maior escala, os conflitos humanos e suas consequências no Estado. O ano passado bateu todos os recordes nos índices de criminalidade, liderados por 1.824 homicídios. As estatísticas criminais destacam a eliminação de 153 mulheres, em 2010, com aumento de 12% em relação ao ano anterior. Nos últimos seis anos, as mulheres assassinadas já somam 858.
A Capital detém, igualmente, números tristes como a morte de 201 adolescentes envolvidos com o tráfico e o consumo de drogas. Nesse submundo da marginalidade, a vida é moeda de quitação para quem não resgata seus débitos. A violência em Fortaleza pode, igualmente, ser mensurada pela quantidade de Boletins de Ocorrências registrados em 2010 somente pelo 34º DP, no Centro da cidade: 37,3 mil.
A nova cúpula dirigente da segurança, no Estado, está sendo recrutada dentre seus experientes quadros, conhecedores da realidade e das limitações financeiras do erário. Agora, eles terão a oportunidade de comprovar eficiência, criatividade na gestão da escassez. Experiências não lhes faltam.